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terça-feira, 20 de novembro de 2007

Brigamos

Os lençóis sujos jogados pelo chão gelado do quarto escuro...
Os vasos, aos cacos, espalhados aos montes pelos pés das paredes...
As flores, aos pedaços, hora pregadas nos móveis, hora despedaçadas por onde quer que olhassemos...

Tudo denunciava nossa fúria, e não era para menos. A porta estava prestes a explodir de tanto que palpitar, e dela vinha o mundo, perguntando se estava tudo bem, se havia algum problema, o que era que estava acontecendo... não importa o que há no mundo lá fora, se o maior problema está aqui dentro. Não importa...

Eu, na janela; ela, na beira da cama, imunda, aos prantos. Nós, nus em pêlo de roupa, e mais pelados ainda em alma: machucados, cansados, perturbados, acabados apesar de vivos. O ar é extremamente denso, e chego a ouvir sua respiração pesada de ódio, respiração como a de alguém que mata por fetiche, para passar tempo, para relaxar... bebo outro gole de whisky, agora tudo está fundido. Tudo está... e eu estou tonto. Não temos mais palavras, estamos exaustos, esbaforidos, acabados, abalados. Traição não se faz.

_Isso não se faz, repeti...

Recomeço. Agora, ela enxuga as lágrimas, se esconde atrás de outro lençol, como se agora sim tivesse vergonha. Penso em chamá-la de suja, mas como? Mais sujo talvez seja eu... quero chorar, mas não por ela, nem na frente dela, não para ela. Ela? Como teve coragem? Como teve?

Agora é ela quem me olha. Não sei se estou bêbado, mas ela se transfora, levanta-se lindamente, pega a garrafa e, num gole, bebe o que restava de bebida. Agora, os dois estamos... como estamos? Não sei, mas logo não estaremos mais em nós. Ela me encara e derrama:

_Achas que tudo que temos é porque merecemos?
_Eu não sei, estou confuso, mas eu não mereço o que você me fez.
_Eu fiz o que quis, você não diz que temos que fazer nossa vontade?, pergunta.
_Mas traição não, respondo.
_Meu amor, ela me olha nos olhos, sei mais de você do que você pode imaginar. Você não me engana, viu? - sorri-, Sei tudo de você, e mesmo com seus óculos escuros, de mim não há nada que você possa esconder. Nada. Você entende?
_Você quer dizer que...
_Você não quis me dizer, mas e daí? Eu não ligo. Sei que me amas porque sinto, simplesmente. Mas, e você? Me ama? Se me ama, então por quê não perdoa?

O mundo agora gira muito, vejo minha mão cortada, talvez pela cerâmica do vaso, talvez por outro caco. Abraço, agora me vejo chorando em seu colo... o mund girando, tudo fundido, seu cheiro quente e úmido, seu carinho em meu cabelo assanhado. Talvez durma, mas me acalmo. Calmo... calmo... calmo. Até quando?

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Nálfrago

Você acredita que, um dia, todas as verdades nos serão reveladas? Só quero acreditar que, um dia, todas as minhas verdades serão postas, expostas e amostras.

Porque nesse dia, nessa bendita nova era de existência real e divina, de felicidade estridente e coração contente, ah! Nesse dia eu terei você. Com todas as forças do mundo, sob todas as formas e rumos: terei você, de verdade você, e mais nada.

Tudo agora é perfeito, de maneira mais humilde quanto simples como há de ser, sentirei a ti e você a mim e aí eu serei você e você vai ser "mim". Pra mim, em brim...

Coloca cuidadosamente o conteúdo dentro da garrafa. Empurra a rolha, leva à boca: beija e despeja. Longe, aquelas palavras agora flutuam, leves como a pluma no ar. São as doces palavras no mar. Ele mergulha, imerge e emerge, solitário, como há anos, naquela maldita ilha tropical avulsa. Já faz tanto tempo, que suas lágrimas e aquela água agora são uma só. E ele, só.

Fim de semana

Novamente olhando o céu retangular pela janela suja de meu quarto escuro, agora penso, mudo, na besteira do mundo. E de tudo...

_A solidão é minha companheira - pauso.
_Minha única certeza - continuo.
_A mais sutil das gentilezas: amarga, mas seca. - concluo.

Estou novamente só, deitado num chão empoeirado, um pouco gelado e muito gasto de minhas lamúrias... choro mais uma valsa, derramo mais um passo, pego aquela caneta de deixo jorrar um sangue quente que há pouco corria na minha veia esquerda... ele corre em direção ao lençol, já me sinto mais leve, já me sinto mais limpo, já me sinto vazio.

Flutuo... e, finalmente, sinto.

Tic, tac, tic, tac, tic, tac...

Agora, um calor estranho toma conta de minha barriga, uma ânsia parece estacionada em minha garganta doída, como se essa ânsa estivesse pronta para explodir e inundar minha vida de agonia.

Mastigo algo mais...
Folheio outra revista...
Aperto o teclado do celular...

Mas não passa. Não passa... não passa! E não há como passar mesmo... sei bem que isso é ansiedade, e que ela só passa quando estou contigo. Se bem que sua indiferença me mata, me arrasa, me pára...

Vejo-me perdido num misto de sensações ruins e deprimentes, sensações humilhantes que são o alimento de minha alma há pelo menos já nem sei quanto tempo... quanto tempo? Um ano, dois meses, cinco minutos, quem sabe? Alguém sabe medir o tempo da alma? Eternidade tem segundo? Quem sabe? Ninguém sabe. Nem eu sei direito...

Mas queria muito que você soubesse, e que você me tirasse desse martírio, porque as almas, elas não existem para sofrerem sós... no máximo juntas. As almas nasceram para encontrar alento umas nas outras, no caso meu e seu, a sua na minha e a minha na sua. Só sua. E quando invado a janela de sua alma, naqueles instantes finitos mas para mim tão gostosos e vagarosos; quando invado o esconderijo de sua alma medrosa sinto e até vejo sua inquietação, sua satisfação com tão pouco, vejo todo o misto de sensações... Vejo seu apelo por mim e até seu desejo, repouso, sob algum perdido...

_Depresa, levante-se! Acabou seu tempo, acabou o tempo, acabou, acabou, o tempo, não há...

Buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum!

_Não há mais tempo...

Fuga

Na confusão das sensações, estava perdido e muito cansado. Cada músculo de meu corpo doia inacreditavelmente, até as batidas desse pobre coração eram mais pausadas, demoradas e sofridas. No meio disso tudo, tudo o que eu queria era ser você. Mas esse mundo chato e sem futuro não me proporciona nada se não manter vazio esse coração sofrido e fraquinho, que se apega fácil, se apaixona muito rápido, acaricia com muito tato e exímio...

Mas, aí, aí tudo parou, aí tudo mudou e eu vi você! E, que louco quando fugimos por um segundo... todos à nossa espera, todos à nossa procura e nós, soltos, perdidos num mundo vazio e fútil mas encontrados em nós, mergulhados num profundo abismo castanho escuro. Como são lindos seus olhos escuros: meu mundo. Tudo...

Apelo!

Se eu pudesse condensar numa gota, como a de água, tudo que quero que saibas, que aprendas, que sejas, que te valhas; juro, eu tentava...

Tudo eu faria para que você aprendesse rápido, fácil e indolor...

Mas só a vida ensina, foi assim que aprendi o que sei: foi por ela que sou quem eu sou, e só a prisão de minha alma pode me trasformar em algo pior do que sou.

Por que você me trata mal, se te amo tanto e só quero teu amor?
Por que me tratas assim, se só quero o que há de melhor pra ti?
Não me amas como eu te amo?
Saibas que amo, apesar dos anos!

Se eu pudesse, juro que tudo faria para que fosses como nos sonhos, mas esse dom eu não possuo, não quero, jamais vou poder comprar...

Ah, se Deus me permitisse comprar! Juro: terias de tudo, inclusive verdades e muita alegria. Tudo seria do teu jeito, não havieria dor, pelo menos você não sentiria dor... os outros, talvez, mas por você até eu sinto dor, por que os outros também não, não é?

Se eu pudesse, se eu pudesse, ah, se eu pudesse... mas agora não há tempo. Corra, vai! Quem sabe você alcança! Essa é a sua hora, nada mais por ti posso fazer, até porque de mim sei que não queres mais saber. Mas vá, a vida ensina, tudo ao nosso redor ensina. Viva...

Sentimento verdadeiro

Respeito o seu sentido
Apesar de não ver sentido no seu sentido
Tudo bem que haja prazer no seu sentido
Mas há mais sentido possível.

Você já parou para sentir hoje?
Há uma realidade
uma verdade
até fatos e possibilidades possíveis que só dependem de você abrir as portas para o mundo.

Há sentido no que digo?
Talvez não, mas veja o que eu digo;
ouça o que te falo:

Há vida para além dessas paredes tortas...
Por favor, abra-nos vossas portas...

Autoimóvel.

Sinto falta de tocar, mas nesse lugar - de pessoas frias não tanto espiritualmente, mas sim pelas circunstâncias termo-climáticas e afins dessa província de ar úmido, mormaço abafado e fedido -, nesse lugar de criaturas frias de suor gelado e pegajoso, nesse lugar o tato não é mais que o contato acidental no coletivo cheio e desconfortável. O contato não vai além do braço distante dos "contatos".

_ Ai, Jesus! O que ei de fazer: quero comer você mas por quê?

_ O quê?!

Novo ciclo

Nasço
Cresço
Aprendo
Limo
Morro
Renasço...

Enfático, num segundo, pro mundo!

...

Nasço em cada manhã que acordo vivo.
E morro todas as noites, enquanto morro de sono.
Dentro do sono, eu sonho
E limo a experiência, amadureço e cresço.
E...

Nasço
Cresço
Aprendo
Limo
Morro
Renasço... até quando?

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Homenagem

------------- Perdoe esses versos tortos, a rima pobre e as idéias soltas. Tudo, um dia, se acerta. Tudo. Você acredita que um dia todas as verdades serão reveladas? Prepare-se, e pare! -------------

Nariz empinado
Boca torta
Cabelo ao vento
Talento, oh, que talento!

.......melindrosa
.......maravilhosa!
.......deliciosa
.......rosa
.......cheirosa!

Pôr-do-sol em tupi
Você precisa parar de agir
Você precisa se vestir
Você precisa sumir!

Mas não suma em tupi

Suma pelo caminho das pedras, enverede-se pelos caminhos de encanto, que te tornam melhor e muito mais humano. Encare a vida, e os planos, com o canto, aquele canto, tanto encanto quanto tanto! Viva feliz e pense assim: pense...
.pense..
..pense.
...pense
E observe, serve, verte. Ele, inerte.

Não é defeito esconder o que se pensa, mas é proteção se resguardar do que não presta. Pense, pense, pense, pense; olhe, veja, cale, e observe! Esconder o que pensas é mais que proteção: é cuidado, é carinho consigo mesmo. Não perder tempo com qualquer um, e buscar no caminho o equilíbrio, o sentido, o ritmo, o signo e, por que não, o cinismo.

Eu também não sei direito, e não pense que é fácil ser assim, ou mesmo chegar até aqui. Mas você chega, você supera, você agarra, você ama; esqueceu, você é humana?!

Acredite no ser humano, todo ser humano, todo o ser humano! Tem um ser humano que te adora, tem vários seres humanos que te mostram. Não humanos? Bem, cavalos dão coices, vacas dão bosta!

Escute e pense.
Não diga.
Guarde-se, resguarde-se, preserve-se e Aguarde.

Ponto

Cumpro minhas horas assiduamente. A minha existência não é à toa, muito menos a minha sede, e a minha fome, e a minha inquietação e a minha relação. Escute bem o que te digo: nada, neste ser, é em vão!

As minhas horas são sagradas, ainda que as suas horas sejam "desorganizadas".

E não me interessa se seus sonhos já foram destruídos, e se você já perdeu o tesão pela vida, e se não há qualquer valia. Em quê me interessa saber o que te cansa, meu Deus, isso me cansa!

Morte aos seus sonhos mortos, à sua existência sem vida, à sua essência sem filosofia, ao seu sentido que não tem sentido! Cada uma das gotas de suor que derramo pensando em meus sonhos e meus valores e meus amores, enquanto espero darem as horas que faltam para completar as horas, cada uma delas valem a pena pelo fato de me tornarem um homem melhor, por tornarem minha existência de maior sentido, mesmo que ainda não tenha achado todo o sentido, por me fazerem sentir: essa é a coisa certa a fazer.

Vivo minhas horas pra não perder as horas. As outras horas. E vivo essas benditas horas para satisfazer aquilo que outrora me incomoda. Sou um eterno caçador, de sentido. Por favor, não perca suas horas! Ainda não sei o que fazer direito com as minhas horas, mas se você também não sabe o que fazer das suas horas, por favor, preserve as minhas horas. E chegou a hora, é hora de ir embora. Não chora...

Antropofísica às avessas

Ainda bem que não posso te comer.

Se conseguisse comer você
(por inteiro, pedaço por pedaço)
Se pudesse te trazer pra dentro de mim
(ainda que pra dentro de pobre estômago)
Se fosse possível transformar você em nós
(eu mais você, você e eu igual a nós)
Se Deus permitisse fazer de mim casa de você
(Deus existe? Talvez por isso, ele existe. Será?!)
Se só me restasse comer você...

Ah!

Aí você iria ver tudo que quero te oferecer!
Aí você iria ver minha constante ebulição!
...........................minha constante inquietação,
...........................meu desejo
...........................minha semente
...........................minha essência
...........................minha gentileza...

Ah, se você pudesse ver.
Ah, se eu pudesse comer você.

Fonte...

Encontro-me com sua boca, e toda minha existência melhora, toda a minha vida se renova, toda minha experiência torna-se sublime. Demore o tempo que for, só a possibilidade de estarmos vivos já nos enche de alegria e vontade de viver mais, pra encontrar um ao outro, pra renovar um ao outro, para exercitarmos o tato um com o outro: beijo sua mão, sinto seu cabelo, toco suas costas, mordo a sua língua...

Entre seus lábios doces, estão a minha existência, e meus sentidos, e meu vigor, e meu viver, meu existir! Vivo pela esperança de, mais uma vez, tocar seus lábios, beijar sua boca, ligar-me a você da maneira mais humilde, mais simples, mais ingênua, derradeira. As coisas tornam-se simples, e nada mais é complicado, porque sua doçura, essa ternura atenua meu viver...

Entre seus lábios finos, nada é vazio, e nada é pequeno, e nada é demais, e nada é de menos... Tudo é perfeito, tudo torna-se perfeito, tudo torna-se eterno, tudo tem sentido, tudo tem carinho e, até, seu cantinho. Toda a existência age para tornar eterno esse momento. E o tempo congela, enquanto suamos graças ao calor exaustante desse lugar nenhum...

Entre esses lábios formosos, grossos, sedosos e melosos, a vida tem sentido. Sim, agora há algum sentido. Acho que há, até, todo sentido! A vida faz sentido, e tudo tem sentido, mesmo que, ao sair, talvez nem tudo tenha sentido. Tu tens sentido? Tudo tem, sentido. Talvez tenha te tido, sem tido seu sentido...

Em que importam as dúvidas e incertezas? Por maiores que sejam as dores, por mais exaustante que seja o meu ou o seu cansaço, por mais triste que seja a vida, a existência, o toque do telefone que nunca atende, o turo turo tatuado no meu peito... seja como for, e seja o que for: em seus lábios tudo se renova, tudo melhora, tudo revigora... tudo!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Tábua Rasa

Passam as horas, cheias de minutos, e segundos, e centésimos e milésimos... E passa a minha vida, e hoje ninguém me liga, e agora ninguém me espia. Maldito seja esse celular, inútil objeto de

Mas, porquê a fadiga? Essa é a sua vida!

As pessoas sobrevivem num vazio de almas, enquanto minha alma só busca procurar sentido. Olho pro relógio, procuro o celular, mastigo mais um pedaço e, ainda assim, não me desfaço do vazio. Do vazio, do vazio, do vazio de meus passos, do vazio de meus sonhos...

Pra quê viver uma vida sem sentido?

Se é pra viver sem sentido, ao menos me ensine em quê sentido! Não entendo, não compreendo, não me contento. Minha sede não cessa, apesar de ainda não encontrar... Cadê o sentido? Cadê seu vestido? Onde está? Onde estar? Aonde estar? Você vai chegar? É isso? Mas, é tão vazio! Estou só! Estou só? Não me deixe só! Eu tenho medo: do mundo, do muro, do turvo... de tudo.

Céu de retângulo.

De meu quarto de cinco metros de largura por três de comprimento, apenas minha janela sobria parece ter movimento. Estou trancado há cinco minutos e ainda não faleci, apenas empaleço, respiro apusadamente, desço... mereço?

Há tanto calor, em tão pouca vida, que, deitado de bruços, chego a sentir cada gota de suor que surge na pele cansada de minhas costas. Sinto cócegas, às vezes cólera, às vezes náuseas... Que bosta, coitada de minhas costas!

Há solidão, há pouca vida, pouca fé, pouca vontade. Tudo se vai, e enquanto olho um retângulo de céu pela grade de minha janela, sinto a vida, sinto a morte, te sinto, me sinto e até rimo. Meus pensamentos voam, minha solidão me incomoda, mas já estou cansado, não sei se quero ir embora. Não sei o que posso fazer, não sei, se quer, se há algo mais a fazer. O que me resta? Falta sentido, talvez ser dito, bendito e bem quisto. Mas como? Em meio a objetos inanimados, eu sou só mais um a fazer volume, enquanto não sirvo às engrenagens desse lugar qualquer. Não quero nem lembrar...

_Eu estou cansado, repetiu enquanto segurava as lágrimas de raiva, meu Deus, vocês me falam de compreensão, mas quanto vocês me compreenderam? Vocês já pararam pra me compreender hoje? Pra mim chega! Não insisto mais, porque isso tudo me desgasta demais! Não quero mais insistir em relações furadas. Chega! Chega! Chega! - gritava, enquanto as lágrimas salgdas de desgosto corriam por sua pele porosa.

_Mas você é que é muito complicado, retrucou com a maquiagem borrada de suor.

_É verdade!, disse a outra, meio anestesiada pelo efeito do álcool, você não relaxa, quer sempre que a gente seja como o povo de lá... assim não dá, não dá... e gasgalhou, achando graça de sua piada rimada: lá, assim não dá, perfeito, tô melhorando a cada dia...

Enxugou as lágrimas, vestiu o casaco e saiu, sem far satisfações. Todos ao seu redor apenas observaram, elá se foi, entre tantos desconhecidos, pela noite escura e incrivelmente morna. Pegou o ônibus, desceu uma hora depois, exausto, tirou a roupa e se jogou na cama, a janela aberta e o quarto incrivelmente quente, apesar das duas da madrugada.

Quero viver, e por quê? sussurou...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Aprendi

Suo e limo
Suo e limo
Suo e limo
Suo e limo

Limo vidas vazias
Limo Alegrias
Tristezas de qualquer espécie também,
E mazelas e calvários também.

Limo amores
dores
cantores e atores

Limo tudo que puder ser feito
Limo até o imperfeito!

Limo a vida, mas como me cansa esse fardo. Limar a vida não é fácil!
Limo e suo porque é dífícil. O suor, inclusive, é o esforço de meu ofício.

O que me resta, se só sei que Limo? Nasci pro Limo, cresci com o Limo, e hoje Limo, mas não como antes. Meu Limo hoje é rico, fruto trazido pela experiência divina. Peço a Deus pelo meu Limo, e observo a vida com os olhos que sinto. Vejo com o tato, o olfato e até com o taco. Vejo com tudo que preciso, e vejo tudo que pressinto. Observo, às vezes falo. E suo. E Limo.

É o que sei fazer: suo, mas Limo.

Olhos

Mergulho em seus olhos negros, sem medo do que pode me acontecer. Que me resta se não me perder na imensidão de seus segredos?
De mim podes esconder tudo, mas quando mergulho em teus olhos esquisitos, todas as verdades se revelam. É inexplicável quanto são infinitos...

Mergulho fundo...
...fundo...
...fundo...
...e mais fundo...

Quanto mais mergulho em seus olhos claros, mais fico frágil, mais tenho medo, mais tenho desejo! São seus olhos negros que me guardam. Minha alma repousa em ti, e a isso nada dá jeito!
Quanto mais me perco nos seus olhos secos mais te conheço, e mais te surpreendo: entro em você sem você perceber; roubo suas defesas sem você querer...

E não me venha com seus clichês de rimas pobres ou rimas ricas... que importam as rimas se suas tripas estão apreensivas? Sabes da verdade que te digo, sabes de tudo que sinto. Sabes também o que sentes?

Mergulho em seus olhos vermelhos. Não sei se são negros, não sei se são claros; fecho o olho de medo quando olho seus olhos! Mas sinto seus olhos e tudo que há dentro de seus olhos. Desejo seus olhos, mergulho fundo em seus olhos, mergulho profundo em sua vida, pra ver se atinjo aquela ferida.

Engarrafamento

O fluxo da grande metrópole foi interrompido, está interrompido, permanece interrompido. Tudo está parado. Tudo.

Enquanto caminho por entre calçadas sujas e esburacadas, enquanto vivo vazio e sem muita vida, enquanto respiro ares poluídos de esgoto e gases afins, enquanto tento viver, ou melhor, sobreviver, caminho rumo a um futuro sombrio e observo, observo a vida a meu redor, ou aquilo que deveria ser vida. Observo as pessoas, essas pessoas tão estranhas que mais parecem objetos, seus brinquedinhos, seus hábitos. observo...

As pessoas, em seus carros, estão todas mortas! Seus olhares já não dizem muita coisa, não há vontade de viver. A vida apenas permanece ali porque se há uma tarefa para fazer. Todos temos que fazer, mas a vida não melhora, não dá prazer, não evolui. Em plenas horas da manhã, as pessoas estão, trancadas em seus carros, com olhos sem brilho, corpos cansados e alma sem vontade, exaustos por uma noite de sono certamente mal durmida. Ou será que não foi a noite, mas o dia? E se foi a vida, e não o sono? São todos pedaços da engrenagem da grande cidade...

Eu, como eles, não sei o que faço, nem mesmo para onde vou. Mas, daqui de fora, é mais doloroso observar o pouco de vida que há em nossas vidas, o pouco de tudo que há em tudo (ou seria o nada que ocupa quase tudo?), é mais difícil observar a engrenagem e suas facetas...

O fluxo está interrompido. A vida já está parada há muito tempo... caminhamos pra onde? Vamos chegar a onde? E, se chegarmos, encontraremos quem?
O fluxo está interrompido? Tudo bem, já não há pressa, já não há mais ânimo, já não há mais vida... entendeu que fluxo está interrompido?
O fluxo está interrompido...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Amor...

Estava mal. Seu corpo tinha toda a força possível, e todo desejo possível, e todo amor possível, e todo tesão possível, e tudo mais que fosse possível. Estava de volta, depois de tanto tempo... estava, de novo, em casa. Os velhos amigos, as velhas coisas, a poeira boa, o sol escaldante e delicioso, o ar seco, as mulheres... tudo evoluíra, apesar de parecer tão igual à última vez... o vento brincava com seu rosto, dava vida a sua existência vazia e sem vida que se desenrolava pelas ruas da metrópole, quando estava longe. Mas agora não, agora ele estava em seu lugar no mundo, com as pessoas de seu mundo, os objetos de seu mundo e tudo que era seu por direito. Tinha tudo para estar feliz, mas a alma estava machucada, por isso estava mal. Machucada pelo que agora lhe acontece na metrópole, e cansada também pelo que acontecia em seu próprio ninho, a alma interferia diretamente no corpo. As dores da metrópole eram mínimas, seriam nada se não fossem as coisas de sua casa. Como dói ver tudo que via, sentir tudo o que agora sintia. Mas, para isso, apenas tempo e paciência. Nada mais lhe restava se não viver exacerbadamente cada segundo, se embebedar de vida aqui, pra quando chegar ali, se arastar em busca de sentidos. Restava viver, viver pra viver. Tentou...

Saí com meus amigos. Saí com a vida, caminhei sem rumo, senti cada movimento dos ventos, da poeira, cada relevo do paralelepípedo, das paredes pintadas com cal, saí com vontade de viver e derrepente, vi você... Que surpresa boa, que visão maravilhosa, que vontade irresistível. Meia hora depois, lá estavamos nós, nus, um tão o outro, um tão do outro: totalmente dedicados, entregues, desarmados, talvez apaixonados... mas minha alma é sua, minha existência pertence a você, e de você não há nada que possa esconder. Senti seus beijos, seu carinho, sua sede, seu calor, senti você... mas para as almas, não dá para mentir, almas não se enganam. Almas não...

_ Algum problema?
_ Não, respondeu, distraído, enquanto tocava sua mão.
_ Não minta pra mim, conheço bem você e sei que há algo de erado. Está muito cansado?
_ Também. Nesse momento, sentiu uma vontade inexplicável de chorar, e quando percebeu, estava em prantos, como um bebê indefeso que precisa de carinho. Ela olhou, incrédula ao que via, e, sem reação, abraçou-o contra seu peito e acarinhou seu cabelo.
_ Não chore, ou chore, faça o que você achar melhor. Eu estou aqui, nós etamos juntos, é isso que basta, disse um tanto trêmula.

Ela era a melhor de todas as mulheres fáceis com as quais ele já havia deitado em sua vida. Sempre foi de poucos, somente se entregava àqueles que gostava, e se gostava, se dedicava obsessivamente. Chegava a ser irritante. Mas não com ele, porque ali havia um encontro de almas, e duas almas, quando se encontram, se entendem simplesmente. Entre eles, a relações de alma era diferente: naturalmente se entendiam e se ransformavam em determinadas situações, como aquela. Ele não chora, Homem não chora, mas ali ele chora para uma mulher, mulher da vida, prostituta, vadia... Ela não ouve, só dá, "tudo o que você quiser d mim. Sou seu objeto de estudo, faça de mim bom proveito, sou sua..." costumava dizer, nos momentos de êxtase. Ela se transformava quando ele precisava, ele se transformava quando era preciso. Ela se transformou. Ele sabia que ela se transformaria, por isso, talvez, confiance tanto nela. Chorou, e la se transformou...

_ Queria poder te ajudar, mas não posso te dar mais que o que te ofereço agora. Posso fazer algo por você?
_ Dor na alma ninguém resolve, resolve? Perguntou, em soluços.
_ A alma a gente esquece, ou quem sabe deixa ela fugir. Você não quer deixá-la livre, talvez seja disso, e só disso, que ela precise.
_ Não sei como...
_ Relaxe, rosnou, enquanto brincava com sua boca. Beijou sua nuca, e desceu, lambendo todo seu corpo, enquanto ele procurava sentir cada toque, cada movimento da língua, cada aroma que surgia daquele momento. Ele a puxou pelo cabelo, deu-lhe um beijo como nunca tinha dado e rasgou sua pouca roupa num único movimento. Ela nada fez, a não ser se deixar levar. Deixou-se levar, foi o que ele queria que fosse, amou, puro e simplesmente...

Depois do amor, observava seus contornos, enquanto ela dormia, como um anjo. Um anjo nu em sua cama de espuma. Agora, tudo era abafado, mas o abafado nunca o foi tão agradável. Simplesmente procurou viver aquilo para acumular mais um momento bom para quando não mais estivesse lá. Procurou dormir... e durmiu... mas não sonhou.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Encontros

"Eu fiquei contando as horas pra falar com você...
Eu não via o momento de te encontar...
Eu andei rodando o mundo, sem jamais te esquecer...
Quando o amor acha o rumo, sempre vai durar!
Recomeçar... depois de um tempo tão longe... Quero ter você perto de mim! E transformar dois destinos num mesmo, ocupar no mundo um só lugar..."
-----
No meio de todo aquele movimento, tudo o que eu queria era encontar um terminal no qual pudesse fazer tudo que tanto precisava fazer: trabalhar. Segui pelos corredores, entrei nas várias salas, em meio à loucura da vida da metrópole, em certos momentos me pego não como um ser humano que pensa e sente, mas como um objeto, mais um na engrenagem louca desse lugar sombrio. Me pego com dores no corpo e na cabeça, me pego não pensando, me pego insensível a todos os meus sentidos, e o pior, adoeço, cada vez mais, eu, meu corpo e minha alma.

Penso nisso tudo em menos de um segundo, e vejo o quanto ainda estou vivo. Procuro mais um pouco no meio de tantos rostos que não conheço, sempre com olhares mortos, todos cansados e infelizes. Que tristeza, que beleza: eu no meio de um monte de zumbis... Que beleza. Procuro mais um pouco, mais um pouco, mais um pouco, mais um...

Vi você!

"Não vejo mais você faz tanto tempo...
Que vontade que eu sinto...
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços, é verdade, eu não minto!
E nesse desespero em que me vejo...
Já cheguei a tal ponto...
De me trocar diversas vezes por você, só pra ver se te encontro..."

Gelei! Por um segundo, eu gelei. Vi você, mas não vi só você, vi sua alma, desarmada, nua, desamparada. E vi seu desejo, nossa verdade, enfim a certeza de que nada era engano, nada era em vão: eu desejava você, você deseja cada curva de meu corpo, cada gota de suor, cada pêlo, cada aroma, cada coisa... Talvez, eu também deseje, mas ainda não sou aquele mestre que você afirmou um dia eu ser. Não, baby, ainda não sei ler as almas em um segundo. Se quer sei decifar as almas, pelo menos não todas as almas, só algumas almas, aquelas almas, alma. Só as ditraídas, só as saudosistas, só as carentes, só... só a sua, baby! Entendo sua alma, porque já comi sua alma, devorei sua presença, me embebedei de suas lembranças. Pena que nunca te amei... se tivesse amado, seria dono absoluto de sua alma, você não teria saída, baby, você seria mais um pertence meu, mais um brinquedinho vivo: o melhor de todos os brinquedos. Talvez você fosse eu. Mas você fugiu, baby, você fugiu.

Não parei de procurar. Você desviou o olhar como quem via o que não queria ver, eu continuei meu calvário em busca de um lugar no mundo. Nesse mundo. Mas, e no seu mundo? E no nosso mundo?

"Baby
Baby
Baby, Ah...
Há quanto tempo?
Baby
Baby
Baby
Ah..
I Love You... Você... Precisa saber da piscina, da margarida, da carolina, da gasolina...
I Love You, I love you..."