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quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Amor...

Estava mal. Seu corpo tinha toda a força possível, e todo desejo possível, e todo amor possível, e todo tesão possível, e tudo mais que fosse possível. Estava de volta, depois de tanto tempo... estava, de novo, em casa. Os velhos amigos, as velhas coisas, a poeira boa, o sol escaldante e delicioso, o ar seco, as mulheres... tudo evoluíra, apesar de parecer tão igual à última vez... o vento brincava com seu rosto, dava vida a sua existência vazia e sem vida que se desenrolava pelas ruas da metrópole, quando estava longe. Mas agora não, agora ele estava em seu lugar no mundo, com as pessoas de seu mundo, os objetos de seu mundo e tudo que era seu por direito. Tinha tudo para estar feliz, mas a alma estava machucada, por isso estava mal. Machucada pelo que agora lhe acontece na metrópole, e cansada também pelo que acontecia em seu próprio ninho, a alma interferia diretamente no corpo. As dores da metrópole eram mínimas, seriam nada se não fossem as coisas de sua casa. Como dói ver tudo que via, sentir tudo o que agora sintia. Mas, para isso, apenas tempo e paciência. Nada mais lhe restava se não viver exacerbadamente cada segundo, se embebedar de vida aqui, pra quando chegar ali, se arastar em busca de sentidos. Restava viver, viver pra viver. Tentou...

Saí com meus amigos. Saí com a vida, caminhei sem rumo, senti cada movimento dos ventos, da poeira, cada relevo do paralelepípedo, das paredes pintadas com cal, saí com vontade de viver e derrepente, vi você... Que surpresa boa, que visão maravilhosa, que vontade irresistível. Meia hora depois, lá estavamos nós, nus, um tão o outro, um tão do outro: totalmente dedicados, entregues, desarmados, talvez apaixonados... mas minha alma é sua, minha existência pertence a você, e de você não há nada que possa esconder. Senti seus beijos, seu carinho, sua sede, seu calor, senti você... mas para as almas, não dá para mentir, almas não se enganam. Almas não...

_ Algum problema?
_ Não, respondeu, distraído, enquanto tocava sua mão.
_ Não minta pra mim, conheço bem você e sei que há algo de erado. Está muito cansado?
_ Também. Nesse momento, sentiu uma vontade inexplicável de chorar, e quando percebeu, estava em prantos, como um bebê indefeso que precisa de carinho. Ela olhou, incrédula ao que via, e, sem reação, abraçou-o contra seu peito e acarinhou seu cabelo.
_ Não chore, ou chore, faça o que você achar melhor. Eu estou aqui, nós etamos juntos, é isso que basta, disse um tanto trêmula.

Ela era a melhor de todas as mulheres fáceis com as quais ele já havia deitado em sua vida. Sempre foi de poucos, somente se entregava àqueles que gostava, e se gostava, se dedicava obsessivamente. Chegava a ser irritante. Mas não com ele, porque ali havia um encontro de almas, e duas almas, quando se encontram, se entendem simplesmente. Entre eles, a relações de alma era diferente: naturalmente se entendiam e se ransformavam em determinadas situações, como aquela. Ele não chora, Homem não chora, mas ali ele chora para uma mulher, mulher da vida, prostituta, vadia... Ela não ouve, só dá, "tudo o que você quiser d mim. Sou seu objeto de estudo, faça de mim bom proveito, sou sua..." costumava dizer, nos momentos de êxtase. Ela se transformava quando ele precisava, ele se transformava quando era preciso. Ela se transformou. Ele sabia que ela se transformaria, por isso, talvez, confiance tanto nela. Chorou, e la se transformou...

_ Queria poder te ajudar, mas não posso te dar mais que o que te ofereço agora. Posso fazer algo por você?
_ Dor na alma ninguém resolve, resolve? Perguntou, em soluços.
_ A alma a gente esquece, ou quem sabe deixa ela fugir. Você não quer deixá-la livre, talvez seja disso, e só disso, que ela precise.
_ Não sei como...
_ Relaxe, rosnou, enquanto brincava com sua boca. Beijou sua nuca, e desceu, lambendo todo seu corpo, enquanto ele procurava sentir cada toque, cada movimento da língua, cada aroma que surgia daquele momento. Ele a puxou pelo cabelo, deu-lhe um beijo como nunca tinha dado e rasgou sua pouca roupa num único movimento. Ela nada fez, a não ser se deixar levar. Deixou-se levar, foi o que ele queria que fosse, amou, puro e simplesmente...

Depois do amor, observava seus contornos, enquanto ela dormia, como um anjo. Um anjo nu em sua cama de espuma. Agora, tudo era abafado, mas o abafado nunca o foi tão agradável. Simplesmente procurou viver aquilo para acumular mais um momento bom para quando não mais estivesse lá. Procurou dormir... e durmiu... mas não sonhou.

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