De meu quarto de cinco metros de largura por três de comprimento, apenas minha janela sobria parece ter movimento. Estou trancado há cinco minutos e ainda não faleci, apenas empaleço, respiro apusadamente, desço... mereço?
Há tanto calor, em tão pouca vida, que, deitado de bruços, chego a sentir cada gota de suor que surge na pele cansada de minhas costas. Sinto cócegas, às vezes cólera, às vezes náuseas... Que bosta, coitada de minhas costas!
Há solidão, há pouca vida, pouca fé, pouca vontade. Tudo se vai, e enquanto olho um retângulo de céu pela grade de minha janela, sinto a vida, sinto a morte, te sinto, me sinto e até rimo. Meus pensamentos voam, minha solidão me incomoda, mas já estou cansado, não sei se quero ir embora. Não sei o que posso fazer, não sei, se quer, se há algo mais a fazer. O que me resta? Falta sentido, talvez ser dito, bendito e bem quisto. Mas como? Em meio a objetos inanimados, eu sou só mais um a fazer volume, enquanto não sirvo às engrenagens desse lugar qualquer. Não quero nem lembrar...
_Eu estou cansado, repetiu enquanto segurava as lágrimas de raiva, meu Deus, vocês me falam de compreensão, mas quanto vocês me compreenderam? Vocês já pararam pra me compreender hoje? Pra mim chega! Não insisto mais, porque isso tudo me desgasta demais! Não quero mais insistir em relações furadas. Chega! Chega! Chega! - gritava, enquanto as lágrimas salgdas de desgosto corriam por sua pele porosa.
_Mas você é que é muito complicado, retrucou com a maquiagem borrada de suor.
_É verdade!, disse a outra, meio anestesiada pelo efeito do álcool, você não relaxa, quer sempre que a gente seja como o povo de lá... assim não dá, não dá... e gasgalhou, achando graça de sua piada rimada: lá, assim não dá, perfeito, tô melhorando a cada dia...
Enxugou as lágrimas, vestiu o casaco e saiu, sem far satisfações. Todos ao seu redor apenas observaram, elá se foi, entre tantos desconhecidos, pela noite escura e incrivelmente morna. Pegou o ônibus, desceu uma hora depois, exausto, tirou a roupa e se jogou na cama, a janela aberta e o quarto incrivelmente quente, apesar das duas da madrugada.
Quero viver, e por quê? sussurou...
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário