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segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Jardineiro

No caminho obscuro, por entre as vielas de minhas incertezas e devaneios, encontro flores... encontro o quê? Encontro formas de vida talvez mais confusas, mais frágeis, mais perdidas do que eu... encontro formas singelas de viver que só querem, talvez como eu, encontrar a felicidade; talvez, como eu, fazer feliz, inclusive a eu.

Bendito seja Deus, que me abençoa, dia a dia, com tanta alegria: amigos... são flores? Amigos também são rochas, são caminho, são luz e, às vezes, até espinhos, como os espinhos daquela flor... Mas amigos são HUMANOS, amigos são PESSOAS e eu sobrevivo de pessoas e humano. Sou feliz por ser pessoa e ter pessoas. Amigos pessoas... feliz.

Se amanhã não sobrevivem essas pessoas, paciência e dor... você não regou a flor o suficiente? Você foi negligente! Você, você... a gente segue em frente! A gente se conforma, segue em frente e colhe outras flores, resgatando mais pessoas, construindo mais caminhos.

Obrigado, pessoas; mas NUNCA "oi, pessoas!"
"oi amigos". Oi. Feliz. Amigo.

Alguém quer dividir Felicidade?

Caminho só essa árdua jornada em busca de quê; em busca de quê oh, meu Deus?!

Ilumine minhas idéias para que me conforme com o que tenho; ou aprisione minha alma para que ela não deseje aquilo que não tem, pois pior do que não ter é querer algo que jamais se experimentou... como querer algo que, se quer, sei o que é?

Oh, Deus, cortai meus pulsos para que eu morra e veja se contigo ou não encontro a paz que procuro. É paz o que procuro? É paz sim, paz para minha alma...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Dependência psíquica lícita

Sobrevivo a mais um dia... e depois de um dia de mundos e fundos, depois de ir e vir, tropeçar, cair e subir, depois de me chocar e decepcionar, me decepcionar, encontro-me exausto jogado nas ruas, encontro-me anestesiado, apesar de não ter certeza de o quê me entorpece... sei que o coração tá machucado, cansado desse fado que é amar sem ser amado.

Socorro!

Preciso desesperadamente de minha dose sem restrições médicas de loucura aguda... preciso de loucura, preciso de loucura!

Agora, todos me olham com seus olhos mortos e cansados, mas o que posso fazer, é a crise de abstinência, repito, antes de me expulsarem do coletivo enfadonho.

Morram todos numa batida violenta,
grito, abalado com o meio fio... morram todos, repito baixinho, o coração pesado e os olhos tristes também, cansados também, desiludidos do mundo. Ainda posso acreditar no ser humano, pergunto, enquanto os carros passam e a vida também. Caminho pra onde, penso, por onde?

Ando sem rumo, talvez depois me aprume, mas como? Ando mais um pouco, gosto de morte na boca, não morte de morrer, mas morte de não mais estar vivo... já me sinto louco quando ouço, longe, um som torto...

É ela, irônica, num carro, chamando por meu nome.

Kiss-me baby,
Kiss-me
Não me suicidei por um triz
Ai de mim que sou assim

É tudo que ouço em meio àquela dor de cabeça.

Como um mutante
No fundo sempre sozinho
Seguindo o meu caminho
Ai de mim que sou romântic...

Viro as costas e sigo em frente, mais confuso do que nunca, mais esperançoso do que antes.

Que fim dar a esse texto, meu Deus, penso, e automaticamente respondo:

Como um mutante, no fundo sempre sozinho, seguindo o meu caminho, ai de mi que sou romântico! Kiss-me Baby
Kiss-me
pena que você não me quis, não me suicidei por um triz, ai de mim que sou assim.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Relíquias esperançosas de um momento imaginado

Entro no prédio e procuro desesperadamente o elevador, para fugir do mundo e de todas as pessoas que tentam ser agradáveis às sete horas da manhã... penso enquanto caminho atá o elevador, penso, penso...

Outro dia, penso, me peguei falando que renasço... mas a vida me testa dia após dia com muito esmero. Bato, caio, respiro e continuo, sem vontade, essa bendita jornada que, acho, não me leva a nada.

Acordo feliz, satisfeito por mais um dia, mas aí vem o fado, vem você e todos os retalhos. E aí, aí me desespero, me descontento, me acabo. Entro numa transe, que mais tarde, eu sei, só pode ser esquisofrenia...

Coitada de minha tia, do vizinho, do porteiro e zelador... todos me comprimentam com suas caras de merda e eu, gélida, engulo a seco meu desatino, meu clandestino, e proibido.

Vago pelas ruas sujas, pela minha mente pobre, pelas vielas, escuras, de nossas vidas; mendigo mais um sopro e mais outro e outro...

Finalmente essa lata elegante desce. Entro no elevador. Ele está vazio. Exeto a sua presença nele... e o resto é vazio. Ainda penso? Não, não penso...

Um sopro, mais um sopro e outro... sou um mendigo da vida sim, até encontrar você e tudo ficar perfeito, e tudo ser direito, e tudo ser infinito e bonito, lindo... encontro contigo minhas esperanças, meu presente e meu futuro, porque sem você eu só existo, mas com você estou vivo, sou homem, sou forte, tenho valor e sou digno...

Com você a vida tem sentido, as dores são bobagens e o amor, ah o bendito amor que dignifica o homem e reproduz a humanidade! O amor é nosso alimento, nosso brinquedo e nosso maior segredo; só nosso... só nosso!

Renasço com você e espero que morras quando eu morrer também, porque não aguentaria saber que sobrevives apesar de eu não mais existir. Amo-te tão desesperado, já disse, tão alucinado, que as idéias saem e o que posso fazer, elas querem viver, elas querem viver...

Cuide-se amor de minha vida. Ainda é cedo, mas como sempre, já não há tempo. Acabou nosso tempo, não há mais tempo...

O elevador chega ao sexagésimo andar e eles se despedem: ela cabisbaixa, meio rosada; ele, destraído, extasiado pelo amor à mulher amada. Agora, pensa ele, só me resta viver dessas migalhas de olhar, desses segundos de olhar, desses...

_Cuide-se,
diz ela, enquanto fecha-se a porta do elevador. Maldito elevador, repete agora, enquanto o elegante objeto em forma de latão caminha rumo a onde?

Paciência

Espero pacientemente até que anoiteça, e depois que amanheça, e novamente que entardeça e, por último, anoiteça. Por último não, porque esse bendito ciclo em minha vida jamais cessa. Caminho por entre vielas, avenidas, ruas e ruinas, mas não encontro o que procuro. E exercito minha paciência para que, enquanto não achar o bendito remédio de meu desatino, simplesmente não enlouqueça em meio a figuras tortas e insignificantes aos meus anseios...

As pessoas me destraem? Que pena, não me satisfazem... é como os versos da canção: pra quê viver uma vida sem sentido?

Martelo, limo, morro e renasço. Já disse todas essas coisas, e honestamente acho que é pura verdade. E decepciono-me também com as pessoas, com meus portos antes tão seguros, com os enganos e desacertos. Oh, céus, porque me atrelo tanto às tristezas e descarto tão depressa todas as alegrias? Não, meu Pai, não mesmo... o que estou dizendo, estou pensando, o que há comigo?

Paciência
Paciência
Paciência
Paciência

Respiro fundo e abro a porta da sala. Agora, todos me olham e todos me comprimentam e todos riem pra mim, não sei se de mim... como saber? Também não interessa... atrás de meus óculos escuros, isso eu também já disse, escondo-me atrás dos benditos óculos escuros e sobrevivo, antes de estar só comigo mesmo novamente e começar todo o martírio novamente: quem sou, pra onde vou, etc, etc...

Paciência...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Homenagem II

Agora, aos urubus que me fazem faxina, todo dia, na vida...

Urubus de minha vida, morram todos de inveja! Morram todos de desespero e desgosto: morram, porque eu amo. Como todo ser humano, amo: desejo e sou desejado, amo e sou amado, sou e faço, agora mais que antes, felicidade.

Em minha carne corre sangue salgado e quente... e eu, amo desesperadamente!
Aos urubus de minha existência, há vida nessa carcaça viva, há vida nessa existência antes vazia.

Urubus, ainda não há muito sentido. Se quer sei se um dia haverá, mas quero que saibam, estimados urubus de minha existência: também sei amar, e amo tanto ou melhor que muitos ogros que dizem amar por aí, vida a fora.
Agora eu sei que amo, urubus, e não importam o que digam, importantes descartáveis de minha vida, não preciso provar mais nada a ninguém, pois já provei a mim mesmo que amo. Amo. E isso basta...

Amo, e não se desesperem adoráveis abultres: amem também! E mais: abram os olhos, e amem também... amem também!

Prelúdio

Nus depois do amor, eles se olham e sonham acordados enquanto deliram de tão exaustos. Ele brinca com o cabelo dela enquanto funde fantasia e realidade. No ar, um cheiro denso e confuso mistura-se ao calor de 40 graus daquela noite inexplicável. Esse cheiro, bendito, torna tudo mais úmido, inclusive os lençóis e os cabelos... Ela agora sonha e sorri, enquanto uma gota de suor viaja pelas curvas de suas costas magras. Ele respira tão profundo, pausado e calmo, que ela chega a sentir cada movimento de seus músculos...

Vai e vem...
Vai e vem...
Vai e vem...
Vai e vem...

Os sonhos, agora não se sabe quais, estão todos misturados.
_Estou sonhando ou estou acordada?, pergunta confusa...
_Estamos todos num grande sonho. Mas, infelizmente, já não há tempo, de novo...
_Não, levanta-se assustada, ainda é cedo! Abraça-o como que para prendê-lo nela. Seu braço forte e quente é um abrigo seguro, uma fonte de paz numa existência tão sofrida. Corto os pulsos, continua, se morreres antes que mim!, agora olhando-o no olho.
_Não digas bobagem, tenta abraçá-la, mas ela se esquiva.
_Juro! Acho que morro se souber que morresses... porque te amo tanto, e te quero tanto, e... confusa, lágrima nos olhos, tanto que simplesmente não teria mais razão para viver, me entendes?
_Entendo meu amor, responde, também com lágrimas nos olhos. E também morreria, minha querida, se soubesse que morresses. Mas te acalmas porque logo logo tudo será mais simples e seguro. Você confia em mim? pergunta olhando no fundo de seu olho medroso.
_Mas eu tenho tanto medo, responde.
_Não o tenha, sussurra em seu ouvido. Vou sempre estar contigo... sempre que pensares em mim... mas preciso que tenhas paciência... você tem paciência? Prometa-me que esperarás até a hora certa, prometa, ele a beija...
_Prometo, responde, mas não é fácil... agora ela chora. Abraça-o e agora choram. Choram de saudade, choram de tristeza pelo poder que não têm, Choram e perguntam se tem mesmo que ser assim...
_Se eu pudesse, juro, ele enxuga as lágrimas, juro que tudo seria mais fácil e que te daria o mundo!
_Eu só quero você, repetia ela, com o olhar novamente aflito. Abraçam-se e ficam assim por algum tempo. Depois, o que importa depois, pensam, já separados...

Movimento: carros, pedestres, ao fundo um metrô, chuva fina e calor, muito calor. Madrugada movimentada, estranha, excepcional, apesar de tudo. Agora que não te tenho mais, amor, vivo de passado até que voltes e resgates meu presente. Porque só contigo sou feliz e só contigo estou vivo... só contigo, repetem baixinho.

Sem título.

Às vezes, tenho medo de dizer certas coisas que precisam ser, terminantemente, ditas...

Aí me calo, enquanto vejo que o dito não é bem quisto. Aí observo o estrago que cometi e comparo com o que previni.

E continuo com medo de dizer certas coisas que precisam, irremediavelmente, serem ditas; mas como amo, mesmo que não correspondido, aí falo, meio calado, o que acho, o fado...

Tenho medo e peço que me perdoe. Desculpe também tudo que te falei, mas exijo paciência e benevolência para com esta pobre alma confusa que só precisa de seu terreiro para brincar dispersa e feliz...

Tenho medo de dizer, mas pro bem de você tenho muito o que dizer...

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Reflexo

Em frente ao espelho, todos os dias pela manhã, vejo meu reflexo e não me reconheço... é meu aquele reflexo? Onde está, onde está o meu reflexo?

Desespero-me! Lavo o rosto apressadamente, derrubo os sabões e depois me olho... mas agora, agora não me agrada o que vejo: um rosto medroso, que não sabe o que quer, se quer o que é, quanto mais o que há.

Respiro.

Acalmo-me, depois de jogar ao longe todos os cremes e loções que melhoram os rostos mas empobrecem a alma...

Respiro...

Agora, enquanto algo escorre pelo piso frio do banheiro, a porta pulsa num ritmo desesperado... devem ser aqueles pobres fingindo preocupação comigo quando queriam que eu já estivesse estendido, no chão, ao cheiro de hidratante com mijo.

Não respondo. Respiro...

Meu Deus, preciso me achar antes que descubram minha loucura... Mas não tenho coragem de olhar no espelho... tenho medo do que ele reflete... um instante... o que essa merda reflete se não a realidade como é?! Mas o espelho inverte o que há... o espelho mente no que mostra... o espelho...

Olho-me no espelho, bem no olho que há ali refletido, e derrepente encontro um alento, um caminho, um acento, um trilho: há um pingo de ternura em meio àquele turbilhão de desespero. Essa ternura me congela e responde aquilo que preciso ouvir.

Sorrio aliviado...

Já não há mais problema, minha procura acabou. Maldito espelho! Reflete o rosto mas não revela a essência... bom dia, alma minha...

Andarilho

_Sabe o que sou, menininha? Pergunta ele, em seu cavalo magro, um pouco cansado, depois de atravessar aquele lugar. Cheio de poeira e incrivelmente abatido, ele estava, inexplicavelmente, feliz.

_Espero que tragas boas novas, sorriu a menina, cordialmente.

Eles caminham juntos, a rua deserta e triste. Ele põe a delicada menina no lombo do cavalo, aperta sua mãozinha delicada e diz:

_Que bom seria se a cada passo que eu desse, voltasse o tempo e repisasse da maneira correta. Mas a vida, inexplicavelmente viva, não me dá esse luxo. Não nos dá esse luxo. Você me entende?
, aponta para a menina, que só balança a cabeça e ri. A vida não nos dá esse luxo, minha querida. No máximo, a vida nos dá bons amigos para recolher os nossos erros e nos alertar do que fizemos.

Ela sorri e os dois seguem em frente, agora mais felizes.

Relatos de um desesperado.

Ensanguentado no chão, já não sentindo as mãos, a vista quase vazia... ele olha a luz que brota das brechas da porta... mas agora já não há hora, mas também não há pressa. É saborear o momento derradeiro antes da liberdade verdadeira... ao fundo, um som grita em brisa "ser livre, ser o que sonhou..."

_ Minha solidão nunca foi problema, diz. O problema é a afeição. Respira... Por quê não me cortam os punhos, pra que eu seque e não desenvolva mais amor? Destruam meu cérebro! Sim, destruam meu cérebro, grita, com os olhos cheios de água... destruam meu cérebro, porque aí não raciocino e vivo apenas de vegetar... vegetação, vegetação... ri. Mas não, não me matam ou me libertam... ao contrário: alguém me dá, todos os dias, as chances de viver. Amanheço vivo, inteiro, renascido e cheio de esperança. Por que? E aí, aí, ri novamente, aí me jogam as migalhas... me conquistam e depois me falham, como se eu fosse um papel barato, que não vale nada, que no primeiro instante é descartado, talvez reciclado... reciclado?! Agora não. Não, respira e ri, confuso. É isso: me reciclam todos os dias, me conquistam e depois brincam. E eu padeço... mas mereço? Não, eu não mereço, eu não mereço! Grita e tenta levantar caindo de mau jeito sobre sua mão direita. Agora, ele sente muita dor, mas é derradeiro, pensa. Eu não mereço... mas esqueçam, seus urubus de asas tortas... esqueçam, porque eu não esqueço! E, se querem saber, no primeiro erro, tudo será vingado. Tudo estará vingado... é isso: vingado... me aguardem...

Fecha os olhos... mas não dorme. Espera. Ao fundo, uma melodia diz: fazer tudo que eu não fuis, lutar por meu lugar no mundo e conseguir...

Libertar...
acompanha ele, ao som que vem do quarto...
Libertar...

Is Secret

"É segredo!", é isso que dizem seus olhos negros, pequenos e serenos... É isso que dizem eles quando encontram os meus, antes de você desviá-los pra bem longe da verdade, ou para bem longe de mim...

Que bom seria se os segredos fossem expostos somente aos envolvidos; mas malditos são esses segredos, que nasceram para serem apenas segredos, só seus segredos, não meus também...

Se eu soubesse um milímetro desse segredo, o suficiente para ter certeza que o segredo sou eu, juro, juro que mandaria ao inferno todos os segredos, todos os sentimentos, e todos os constrangimentos... danem-se todos!

Agora só nosso segredo importa... mas é segredo. É segredo...

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Testamento

Pego o bilhete amassado. Leio com pressa aquelas linhas tortas, um pouco tremidas, mas muito amigas... "São suas, sei que são", penso.

"Caro amigo...

Sei que não tenho sido um bom companheiro, se quer tenho te tratado direito... desculpe-me, inclusive, essas linhas tortas. Imagino sua cara de idiota lendo essas minhas besteiras... como sempre, recorro à escrita para sanar aquilo que deveria fazer com a palavra. Ou melhor, com a fala. Adoro o olho no olho, você sabe, mas estou estagnado, realmente muito cansado... enfim, estou cansado... não sei se aguento olhar em seus olhos de novo. Também não quero olhar em seus olhos de novo. Chega de sofrer com ações desnecessárias. Posso paracer um fraco, e sei que sou, mas sinceramente, prefiro... prefiro dar um fim a isso tudo. Chega de tentar manter uma coisa sem sentido, essa relação mesmo tão sem sentido. Desculpe-me a franqueza, mas reconheça sua culpa: você é tão fraco quanto eu, você é tão imoral quanto, tão pobre quanto... você nem ao menos fala, meu Deus, você não fala... sei que sou pedante, irritante, cansativo e frustrante... sou até mais que o que queiras dizer, mas meu Pai, só queria que reconhecesses tua culpa nisso tudo. Enfim, quero que te fodas, na moral não chore nem... nem ouça? Rima né, mas não fique triste, a metáfora do "garfanhoto" é verídica, sou isso aí mesmo, faço mal e depois parto pra outra, como agora, como sempre... como sempre...

Espero que me perdoe, que sejas feliz, que reconheças todas as culpas e que, honestamente, não erres novamente. Acreditas que, um dia, todas as verdades te serão reveladas? Insisto nessa parada porque é ela que me agrada...

Acabou o tempo... Cuide-se.

Te amo, mas não dá mais. Embora... adeus..."

Mensageiro.

São cinco e trinta da tarde, estou parado num ponto de ônibus desconfortável e mal localizado, perto do nada e longe de tudo. Olho ao meu redor e vejo rostos conhecidos, amigáveis... descartáveis. Nada deles me excitam, a não ser suas presenças agradáveis nos momentos destraídos. Agora vem um ônibus, e já nem lembro se estou aqui há muito tempo. Viver em lugar qualquer deteriorou meus nervos, já nem sei bem o que é o tempo. Na minha cabeça repetem-se versos delicados de um cantor que descobri agora a pouco...

Eu finjo ter paciência...
Eu finjo ter paciência...
Eu finjo ter paciência...

Os versos fundem-se com uma frase que há muito tempo me faz castigo, apesar de ainda estar vivo. O ônibus agora balança "irritantemente", penso, e me deou conta que irritante e excitante são quase a mesma coisa... Ora, será que gosto, então, e não me dou conta? Estou confuso e meu coração continua a palpitar de desgosto. Quanto mais eu tento, mais eu erro, e me agrada o erro, mas não esse erro, porque agradam aqueles que cometo, não os que os outros me fazem cometer.

_Como?, pergunta uma senhora gorda e negra que está ao meu lado. Seu rosto é velho, de quem trabalha ao sol, suas marcas de expressão são firmes, bem delineadas, dentes brancos e perfeitos.

Olho pro lado e procuro não pensar em nada, mas agora, vejo as faces tristes e cansadas de um lugar qualquer que parece estar sempre triste, sempre cansado... sinto-me mal em estar ao lado de pessoas tão cansadas, exaustas de existir, envelhecendo mais e mais a cada segundo. Sinto meu ombro e...

_Como?, repete, um pouco espantada. Pronto! Estou pensando alto, de novo.

_Nada, senhora, digo baixo, escondendo lágrimas? Estou chorando? O que há comigo?

_Você está chorando, meu filho... quer um calmante? Eles não falham! Você está indo pra casa? Se não nem adianta... olhe, eu nem tomo quando vou pro trabalho, só quando vou pra casa, porque é chegar e desmaiar, entende? Desmaiar... Ela ri, inocentemente, e continua a falar as coisas, enquanto volto para meus rostos tristonhos à espera de fluxo. No vidro dos carros vejo o meu rosto cansado, e me dou conta que envelheço mais que antes. Me desespero. Ah, o desespero... não compreendo como desenvolvo fácil tamanhas mazelas, mas o que me resta se não as loucuras benditas de minha mente doentia? Levanto-me depressa, quase derrubo a velha, que me recrimina por deixá-la falar só. Puxo rapidamente a cordinha, aperto o maldito botão... "pára, droga!", repito, enquanto agora todos me olham.

Balanço derradeiro...
Freio bem quisto!

Desço numa calçada esburacada. Agora devem ser seis horas... estou distante de meu destino numa rua perigosa, mas o que me importam as horas se não tem sentido. Olho as pessoas a pé, olho as pessoas nos carros, as balconistas das lojas e suas maquiagens de quinta categoria. Subo e desço buracos em calçadas, desvio e piso firme em vazios... caminho sem rumo, certo de que agora estou mais próximo de minha essência: sem rumo, sem futuro... nem dá para respirar fundo porque, meu Deus, que ruas de bosta.

Caminho mais um pouco, e mais um pouco, e mais um pouco. Agora chega a pior hora: chego em frente à escola. Subo devagar seus degraus até atingir a porta. Entro, me dirijo até outra porta e me deparo com uma fila. Enorme. (Faltam palavras!). Será contagioso o cansaço?

Pra quê viver uma vida sem sentido?
Pra quê viver uma vida sem sentido?
Pra quê viver uma vida sem sentido?

Subo de escada, pra quê elevador? Talvez pra não sentir mais dor. Nem sei direito o que é a dor. Refiro-me à dor física ou à dor da alma? Calma, pára e anda, depois fala! Alguém me olha esquisito, então sorrio e corro, subo, subo, subo... Chego ao terceiro andar, e agora aqueles rostos. Ai, os rostos. Volto à escada, dou uns tapas na minha cara... "agora, lindo, aquele sorriso sem sentido, vai", repito, enquanto me sinto mais vivo. Ando mais um pouco, agora pra frente. Entro silenciosamente e me sento. Pronto, lá vem o meu degredo.

Aproxima-se
Aproxima-se
Aproxima-se

Baixo a cabeça. Respiro...

Palavras

Tenho muito o que dizer
Tenho o mundo pra te dizer
Mas como fazer?
Posso descrever?

Tenho coisas pra dizer que as palavras não poderiam descrever; são sensíveis demais pra serem ditas, quem sabe com o tato você sintiria...

Tenho dores, amores, flores e cores que queria muito te descrever; quero, inclusive, que descrevam você, que preencham você, que sejam você...

Tenho, não nego. E pelo contrário: grito alto: tenho mundos e fundos para te oferecer, só não sei direito o que fazer, tenho querer, arder, tremer e... e você?!

Tenho... tenho um monte de coisas, tenho... agora é tão confuso, falta uma conclusão que não sei chegar porque não há mais tempo: acabou a inspiração.

Expire...

Silêncio solitário secretamente alucinante...

Amo-te tão silenciosamente que respiro pausadamente pra não denunciar meu fado...
Amo-te tão solitariamente que caminho fácil por entre a multidão, estagnado...
Amo-te tão secretamente que olho sempre pros lados, nervoso e atento, cansado...
Amo-te tão alucinadamente que procuro remediar meus passos, pra não entregar o fato...

O fato.
O fato...
Que fato?

Amo-te alucinadamente, mas tão silenciosamente, que cada segundo dessa loucura é acúmulo de prazer e agonia, ânsia e alegria... sozinho e companhia... é secreto, mas todos sabem; é solitário, mas todos... todos... todos estão? Todos são?

Amo-te, e isso me basta, como respiro, bato e vivo... logo, existo.
Amo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Bem alto!

Minha loucura é toda candura, desde criança me esbaldo na loucura. Tadinha de minha conduta... coitada dessa pobre criatura... lembro-me como daqui a pouco, quando caminhava pelo pátio engraçado e observava o mundo, tão esquisito, quando derrepente... ah, não, foi diferente? Confusa...

...

Mas, agora tanto faz... já está tudo no chão mesmo, já está tudo no chão. Ah, não, salvem-me, lá vem aquela louca novamente, agulha em punho, anjo de sangue... sai daqui, sua louca maldita, anjo branco escurraçado dos céus! Sai, não me toque...

O que importa?

Caminha calmamente pelo pátio. Deve ter quantos anos? Sete, oito? E seus pais, onde estão? Seus sonhos já não estão... Ela caminha vaga, pelas meninas, pensativa quando apenas deveria ser menina. Pobre menina...

_Pobre menina, repetiu Patrícia, rodeada de suas amigas bonitas. Mas não há nada mais constrangedor que o frio que se recebe de alguém.

_Ei, agora berrando, eu falei com você, sua anormalzinha!
_ Ha ha ha ha ha ha ha... riam, as outras menininhas, enquanto ela continuava, vazia.
_Ei, agora com força, enquanto jogava o conteúdo da lancheira em sua cara.
_Por quê você fez isso? Perguntou, novamente viva.
_Porque me faz bem maltratar você.

Ela agora estava viva, e como era estar viva? Há tempos não sabia o que era melhos. Se quer, se já foi melhor, se vai ser melhor. Seria cedo para pensar nisso, mas não pra ela, não pra ela. Tomada por uma ânsia que, mais tarde, aprenderiam bem, limpou o rosto, aproximou-se e encarou a menina narina com narina:

_Vou maltratar você só uma vez. E prometo que você não vai querer me ver outra vez, disse, olhando firme em seus olhos.
_Vou acabar com você, gritou, descontrolada e já agarrada aos cabelos da outra. Antes que pudesse lhe causar mais alguma dor, a menina simplesmente encostou a boca em seu ouvido, abriu bem a mandibula, fechou com força e sentiu, pela primeira vez, o gosto de sangue. Na boca. Um prazer imensurável tomou conta dela, que agora via todas as menininhas pérplexas, enquanto ela, apenas cospia um pedaço de carne cru, enquanto limpava o vestido.

A menininha gemia, escornada no chão, com um grito assustador de dor. Sua dor agora era toda a dor, para todos uma grande dor, mas pra ela só uma boa dor. Acordou para a vida, acordou para o mundo, viu-se rindo daquilo, e depois esqueceu do que se passou... a sala da diretora, a cela escura e fria, as sessões de choque e tantas fugas.

Pobre menina: tão menina, mas sem amor... tão criança, e, ao mesmo tempo, tendo que ser tão adulta. Não merecia...

Terapia

Nada é o que parece, repito, aflito, antes de sair da cama, no começo de mais um louco dia.

Agora, minhas costas doem, meu rosto está disfigurado, mal acordei e já estou cansado.

Nada é o que parece,
Nada é o que parece,
Nada é o que parece, repito baixinho, antes que vejam minha sessão matinal de repito... estou com sono. Mas a vida me chama, já não tenho mais ânimo para cama.

Nada é o que parece, repito, antes que me vejam tão sombrio. Repito, até que abro a porta e, agora, me vejo cego, o sol, a luz, muito claro! Claro!

_O que há, me perguntam.
_Não sei, estou em órbita, respondo.
_Você e essa sua conversa de bosta, escuto, enquanto me colocam café. Estou sonhando? Café e bosta? Como assim? Não entendo... pego a xícara, café ou bosta, e, sem querem, já estou levantando quando lembro que há um segundo joguei a xícara e seu conteúdo na cara do nojento. Café ou bosta? Bosta queima? Não, então já sei: não era bosta.

Enquanto um grita e outros levantam, me tranco no banheiro. Preciso lavar o rosto.

Abris os olhos!

Abris os olhos enquanto é tempo!
Porque o tempo não tem senso,
O tempo é como o vento:
misterioso e passageiro.

O tempo pode destruir a vida,
Mas o tempo também semeia, linda!
O tempo é parceiro,
Mas é instável, e por isso traiçoeiro!

Abris os olhos agora...
Já, quase, não há hora!
E o que vai ser depois?
O que vai ser de nós dois?

Abris os olhos porque o tempo é passageiro,
Por que a vida é bailarina:
Dança, mas uma hora cai.
E se essa hora chegar, oq ue vai ter sido de nós dois?

Abris os olhos enquanto ainda te tenho,
Porque no dia que expulsar você...

Fome

Seus pés são meu melhor brinquedo.
Sereno, me esbaldo com seu enredo,
Enquanto você me olha,
Gulosa, com aqueles olhos de medo.

Deslizo em seus dedinhos,
Mastigo-os, todos tão macios.
Tão felinos, e até caídos... e famintos.
Sacio meu delírio, mas até quando? Logo, novo vício!

Seus pés.
Amo-os porque te trazem pra mim.

Seus vazos.
Adoro-os porque só provam que não esperas: segue em frente, aprende, serpente ardente!

Teus pés descalços são belos traços, são tudo o que eu preciso, são meu feitiço, meu caminho, meu ardente abrigo nesse mundinho. Venha com seus pezinhos, mas venha de fininho. Pezinhos...