São cinco e trinta da tarde, estou parado num ponto de ônibus desconfortável e mal localizado, perto do nada e longe de tudo. Olho ao meu redor e vejo rostos conhecidos, amigáveis... descartáveis. Nada deles me excitam, a não ser suas presenças agradáveis nos momentos destraídos. Agora vem um ônibus, e já nem lembro se estou aqui há muito tempo. Viver em lugar qualquer deteriorou meus nervos, já nem sei bem o que é o tempo. Na minha cabeça repetem-se versos delicados de um cantor que descobri agora a pouco...
Eu finjo ter paciência...
Eu finjo ter paciência...
Eu finjo ter paciência...
Os versos fundem-se com uma frase que há muito tempo me faz castigo, apesar de ainda estar vivo. O ônibus agora balança "irritantemente", penso, e me deou conta que irritante e excitante são quase a mesma coisa... Ora, será que gosto, então, e não me dou conta? Estou confuso e meu coração continua a palpitar de desgosto. Quanto mais eu tento, mais eu erro, e me agrada o erro, mas não esse erro, porque agradam aqueles que cometo, não os que os outros me fazem cometer.
_Como?, pergunta uma senhora gorda e negra que está ao meu lado. Seu rosto é velho, de quem trabalha ao sol, suas marcas de expressão são firmes, bem delineadas, dentes brancos e perfeitos.
Olho pro lado e procuro não pensar em nada, mas agora, vejo as faces tristes e cansadas de um lugar qualquer que parece estar sempre triste, sempre cansado... sinto-me mal em estar ao lado de pessoas tão cansadas, exaustas de existir, envelhecendo mais e mais a cada segundo. Sinto meu ombro e...
_Como?, repete, um pouco espantada. Pronto! Estou pensando alto, de novo.
_Nada, senhora, digo baixo, escondendo lágrimas? Estou chorando? O que há comigo?
_Você está chorando, meu filho... quer um calmante? Eles não falham! Você está indo pra casa? Se não nem adianta... olhe, eu nem tomo quando vou pro trabalho, só quando vou pra casa, porque é chegar e desmaiar, entende? Desmaiar... Ela ri, inocentemente, e continua a falar as coisas, enquanto volto para meus rostos tristonhos à espera de fluxo. No vidro dos carros vejo o meu rosto cansado, e me dou conta que envelheço mais que antes. Me desespero. Ah, o desespero... não compreendo como desenvolvo fácil tamanhas mazelas, mas o que me resta se não as loucuras benditas de minha mente doentia? Levanto-me depressa, quase derrubo a velha, que me recrimina por deixá-la falar só. Puxo rapidamente a cordinha, aperto o maldito botão... "pára, droga!", repito, enquanto agora todos me olham.
Balanço derradeiro...
Freio bem quisto!
Desço numa calçada esburacada. Agora devem ser seis horas... estou distante de meu destino numa rua perigosa, mas o que me importam as horas se não tem sentido. Olho as pessoas a pé, olho as pessoas nos carros, as balconistas das lojas e suas maquiagens de quinta categoria. Subo e desço buracos em calçadas, desvio e piso firme em vazios... caminho sem rumo, certo de que agora estou mais próximo de minha essência: sem rumo, sem futuro... nem dá para respirar fundo porque, meu Deus, que ruas de bosta.
Caminho mais um pouco, e mais um pouco, e mais um pouco. Agora chega a pior hora: chego em frente à escola. Subo devagar seus degraus até atingir a porta. Entro, me dirijo até outra porta e me deparo com uma fila. Enorme. (Faltam palavras!). Será contagioso o cansaço?
Pra quê viver uma vida sem sentido?
Pra quê viver uma vida sem sentido?
Pra quê viver uma vida sem sentido?
Subo de escada, pra quê elevador? Talvez pra não sentir mais dor. Nem sei direito o que é a dor. Refiro-me à dor física ou à dor da alma? Calma, pára e anda, depois fala! Alguém me olha esquisito, então sorrio e corro, subo, subo, subo... Chego ao terceiro andar, e agora aqueles rostos. Ai, os rostos. Volto à escada, dou uns tapas na minha cara... "agora, lindo, aquele sorriso sem sentido, vai", repito, enquanto me sinto mais vivo. Ando mais um pouco, agora pra frente. Entro silenciosamente e me sento. Pronto, lá vem o meu degredo.
Aproxima-se
Aproxima-se
Aproxima-se
Baixo a cabeça. Respiro...
terça-feira, 27 de novembro de 2007
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