Em frente ao espelho, todos os dias pela manhã, vejo meu reflexo e não me reconheço... é meu aquele reflexo? Onde está, onde está o meu reflexo?
Desespero-me! Lavo o rosto apressadamente, derrubo os sabões e depois me olho... mas agora, agora não me agrada o que vejo: um rosto medroso, que não sabe o que quer, se quer o que é, quanto mais o que há.
Respiro.
Acalmo-me, depois de jogar ao longe todos os cremes e loções que melhoram os rostos mas empobrecem a alma...
Respiro...
Agora, enquanto algo escorre pelo piso frio do banheiro, a porta pulsa num ritmo desesperado... devem ser aqueles pobres fingindo preocupação comigo quando queriam que eu já estivesse estendido, no chão, ao cheiro de hidratante com mijo.
Não respondo. Respiro...
Meu Deus, preciso me achar antes que descubram minha loucura... Mas não tenho coragem de olhar no espelho... tenho medo do que ele reflete... um instante... o que essa merda reflete se não a realidade como é?! Mas o espelho inverte o que há... o espelho mente no que mostra... o espelho...
Olho-me no espelho, bem no olho que há ali refletido, e derrepente encontro um alento, um caminho, um acento, um trilho: há um pingo de ternura em meio àquele turbilhão de desespero. Essa ternura me congela e responde aquilo que preciso ouvir.
Sorrio aliviado...
Já não há mais problema, minha procura acabou. Maldito espelho! Reflete o rosto mas não revela a essência... bom dia, alma minha...
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