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terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Relíquias esperançosas de um momento imaginado

Entro no prédio e procuro desesperadamente o elevador, para fugir do mundo e de todas as pessoas que tentam ser agradáveis às sete horas da manhã... penso enquanto caminho atá o elevador, penso, penso...

Outro dia, penso, me peguei falando que renasço... mas a vida me testa dia após dia com muito esmero. Bato, caio, respiro e continuo, sem vontade, essa bendita jornada que, acho, não me leva a nada.

Acordo feliz, satisfeito por mais um dia, mas aí vem o fado, vem você e todos os retalhos. E aí, aí me desespero, me descontento, me acabo. Entro numa transe, que mais tarde, eu sei, só pode ser esquisofrenia...

Coitada de minha tia, do vizinho, do porteiro e zelador... todos me comprimentam com suas caras de merda e eu, gélida, engulo a seco meu desatino, meu clandestino, e proibido.

Vago pelas ruas sujas, pela minha mente pobre, pelas vielas, escuras, de nossas vidas; mendigo mais um sopro e mais outro e outro...

Finalmente essa lata elegante desce. Entro no elevador. Ele está vazio. Exeto a sua presença nele... e o resto é vazio. Ainda penso? Não, não penso...

Um sopro, mais um sopro e outro... sou um mendigo da vida sim, até encontrar você e tudo ficar perfeito, e tudo ser direito, e tudo ser infinito e bonito, lindo... encontro contigo minhas esperanças, meu presente e meu futuro, porque sem você eu só existo, mas com você estou vivo, sou homem, sou forte, tenho valor e sou digno...

Com você a vida tem sentido, as dores são bobagens e o amor, ah o bendito amor que dignifica o homem e reproduz a humanidade! O amor é nosso alimento, nosso brinquedo e nosso maior segredo; só nosso... só nosso!

Renasço com você e espero que morras quando eu morrer também, porque não aguentaria saber que sobrevives apesar de eu não mais existir. Amo-te tão desesperado, já disse, tão alucinado, que as idéias saem e o que posso fazer, elas querem viver, elas querem viver...

Cuide-se amor de minha vida. Ainda é cedo, mas como sempre, já não há tempo. Acabou nosso tempo, não há mais tempo...

O elevador chega ao sexagésimo andar e eles se despedem: ela cabisbaixa, meio rosada; ele, destraído, extasiado pelo amor à mulher amada. Agora, pensa ele, só me resta viver dessas migalhas de olhar, desses segundos de olhar, desses...

_Cuide-se,
diz ela, enquanto fecha-se a porta do elevador. Maldito elevador, repete agora, enquanto o elegante objeto em forma de latão caminha rumo a onde?

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