Perdoem-me pelos altos e baixos emocionais;
Perdoem os achismos, as fraquezas e a franqueza;
Perdoem também a vergonha, de mim e dos outros.
E também as incertezas dessa personalidade em construção, além das tentativas frustradas de ser legal, gentil e compreensivo...
A todas as tentativas frustradas de qualquer coisa em que eu os tenha envolvido; ao meu fado complicado na vida de cada um; aos lamentos e afins; a todas as besteiras que já fiz meu pedido de desculpas.
Longe de uma carta de despedida, esse desabafo é antes uma tentativa singela mas verdadeira de justificar minha frieza para com o mundo, minha estranheza, minha alma mutante: admito que não suporto ser assim, mas como já disse uma vez, há uma corrente, sempre uma corrente, me puxando pra trás, pra longe, pro fundo.
Perdoem esse nobre vagabundo e toda sua incoerência, perdoem meus medos, perdoem minha ‘ordem’ e sobretudo as minhas fraquezas...
Se pudesse fazer um pedido seria o único: por favor me entendam. Vocês não sabem como é difícil engolir a seco a estranheza desse lugar qualquer sem experimentar o sabor doce do preconceito, do lamento, do “vitimez”... Tudo ajuda para que eu pare e lamente...
Pobre vítima de si mesmo, Leonardo Lemos...
Mas estou tentando mudar. E juro: O que mais tento entender no outro é aquilo que menos entendem em mim... Me pergunto: como pode?
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Outro Homem
Mais do Mesmo novo homem, e dessa vez com EME MAIÚSCULO: novo homem, eterno Menino. Chego a esses novos dias derrotado e esgotado, com uma vontade desesperadora de chorar sem que ninguém veja, à espera da guilhotina, à espera do condor, à espera da coragem para acreditar no que ficou para trás, tudo sólido e propício para chegar, finalmente, a um futuro prometido. Mas há que horas chega? Hoje o novo homem é só um menininho machucado, ainda esperançoso, e algo mais que agora me falta.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Raiz em desenvolvimento
Lamentações de um prisioneiro
Passos nos corredores; desespero: o café da manhã acompanhado de pitadas de volts, água gelada, violência sexual e remédios. O insistente desejo de voar alto num céu azul, sem nuvens, sol de meio dia e a lágrima da esperança.
Seus sonhos...
Amor não correspondido
Um beijo...
sábado, 12 de julho de 2008
Tempo
O espaço para o beijo. O beijo à vida, o beijo à morte, o beijo à incerteza e o beijo a você mesmo. O tempo para reflexão, para o esconderijo, o tempo para a fuga e o tempo para tudo, ou nada. O tempo que precede a lágrima ou a vontade de chorar, e o músculo do queixo que não conseguimos controlar quando choramos...
O tempo que precede a lágrima mas como se esse tempo simplesmente permite a lágrima e o movimento?
E finalmente se deixa derramar a lágrima por tudo que te cerca. Mas como não deixá-la derramar se não com o tempo?
Um sopro leve que beija meu rosto em meio a essa jornada que insiste em ser batalha mas pra mim é caminhada...O sopro leve em meio a essa dura jornada de mim comigo mesmo, e no meio disso tudo, o tempo, que não pára, mas como, se para isso ele necessitaria de tempo?
Pensamentos soltos como o vento que me beija e a confusão preguiçosa que me enrola todo e me faz agir assim. Polui minhas entranhas, minhas palavras, minha filosofia, meu pensamento (outro pensamento?!)
Reflexão bucólica que me enrola todo e me faz agir assim: melancólico, bucólico, fugitivo, vingador... Saudosista e triste, enlouqueço um pouco mais a cada dia e insisto. Insisto. Insisto. Insisto?
Doido e sangrante como sempre, ou como nunca... desde quando meio louco?!
Mais um vento e lá se vai com ela o fio de minha inspiração...
O tempo que precede a lágrima mas como se esse tempo simplesmente permite a lágrima e o movimento?
E finalmente se deixa derramar a lágrima por tudo que te cerca. Mas como não deixá-la derramar se não com o tempo?
Um sopro leve que beija meu rosto em meio a essa jornada que insiste em ser batalha mas pra mim é caminhada...O sopro leve em meio a essa dura jornada de mim comigo mesmo, e no meio disso tudo, o tempo, que não pára, mas como, se para isso ele necessitaria de tempo?
Pensamentos soltos como o vento que me beija e a confusão preguiçosa que me enrola todo e me faz agir assim. Polui minhas entranhas, minhas palavras, minha filosofia, meu pensamento (outro pensamento?!)
Reflexão bucólica que me enrola todo e me faz agir assim: melancólico, bucólico, fugitivo, vingador... Saudosista e triste, enlouqueço um pouco mais a cada dia e insisto. Insisto. Insisto. Insisto?
Doido e sangrante como sempre, ou como nunca... desde quando meio louco?!
Mais um vento e lá se vai com ela o fio de minha inspiração...
Bilhete
Minha cara amada, peço insistentemente para que fujamos enquanto há tempo, porque a loucura está me tomando todo, e a cada dia essa solidão estranha e amarga me mata um pouco mais e um pouco mais.
Mata mais e mais, mas não me mata de verdade, amada minha, pelo contrário: me deixa vivo para os detalhes e sensível à estupidez alheia e afim, de maneira que meu maior desejo nos últimos momentos, depois de suas doces entranhas, é a destruição do outro por métodos malignos e delicados, mas maus, todos, e muito sangrentos, estraçalhados resumidamente. À boçalidade e idiotice alheia desejo matar devagar e pausadamente; amarrar num tronco e esfaquear até vê-lo secar; cortar aos pedaços; passar por cima e tornar uma massa homogênea; matar simplesmente.
E para que eu não mate nem morra, amada minha, peço que fujamos para aquele doce refúgio que só encontro no balanço doce de seus cabelos limpos e cheirosos, no embaraço mágico de suas pernas, na sua boca, nos seus olhos, no seu ser, enfim.
Salve-me amada minha, enquanto há tempo. Salva-me, amada minha.
Mata mais e mais, mas não me mata de verdade, amada minha, pelo contrário: me deixa vivo para os detalhes e sensível à estupidez alheia e afim, de maneira que meu maior desejo nos últimos momentos, depois de suas doces entranhas, é a destruição do outro por métodos malignos e delicados, mas maus, todos, e muito sangrentos, estraçalhados resumidamente. À boçalidade e idiotice alheia desejo matar devagar e pausadamente; amarrar num tronco e esfaquear até vê-lo secar; cortar aos pedaços; passar por cima e tornar uma massa homogênea; matar simplesmente.
E para que eu não mate nem morra, amada minha, peço que fujamos para aquele doce refúgio que só encontro no balanço doce de seus cabelos limpos e cheirosos, no embaraço mágico de suas pernas, na sua boca, nos seus olhos, no seu ser, enfim.
Salve-me amada minha, enquanto há tempo. Salva-me, amada minha.
Ânimo
Quando o raio de sol invade meus poros e uma força estranha me toma, estranhamente, por mais seca que esteja essa fonte, uma inspiração me vem... Uma sede de viver, um não sei o que desesperado, salgado como o suor gelado que sai do meu corpo, um tudo que me refaz apesar de tudo o que veio até então e me faz sentir mais forte e certeiro:é esse o caminho correto; é esse!
E me debato dentro de mim mesmo, me repito, me reciclo, me reencontro e de novo, tudo de novo.
E me debato dentro de mim mesmo, me repito, me reciclo, me reencontro e de novo, tudo de novo.
04 de abril de 2008
Certamente você não se lembra, e para que se lembrar, não é mesmo?
As bobagens todas deveriam ficar no passado, penso, e quando digo bobagens, digo as bobagens todas, as minhas e as suas, se bem que não sei se as suas porque são suas e sobre você nada posso fazer, muito menos dizer, pois tão pouco sei sobre você... Mas as minhas estão todas enterradas!
Todas!
Um adeus à disciplina, responsabilidades e compromissos. Um adeus à preocupação de encontrar alguém e um abraço, forte, ao acaso, ao esmero, ao efêmero...
Vai ser assim daqui pra frente, amor, apesar da saudade fina daquele fatídico quatro de abril. Ainda sinto o doce estranho daquela cerveja...
As bobagens todas deveriam ficar no passado, penso, e quando digo bobagens, digo as bobagens todas, as minhas e as suas, se bem que não sei se as suas porque são suas e sobre você nada posso fazer, muito menos dizer, pois tão pouco sei sobre você... Mas as minhas estão todas enterradas!
Todas!
Um adeus à disciplina, responsabilidades e compromissos. Um adeus à preocupação de encontrar alguém e um abraço, forte, ao acaso, ao esmero, ao efêmero...
Vai ser assim daqui pra frente, amor, apesar da saudade fina daquele fatídico quatro de abril. Ainda sinto o doce estranho daquela cerveja...
Decepção
_ O número de seu celular eu fiz questão de apagar, cachorra, apesar da brincadeira do destino em apresentá-lo tão fácil para a minha memória desmemoriada e fraca. O celular, os perfumes, o relógio, as fotos e tudo mais. Aqueles bilhetes, sua vagabunda, são todos poeira agora. Poeira, ta me ouvindo?!
Outro gole de cachaça
_E não me apareça mais com aqueles beijos doces porque esse seu tabaco eu não como mais ta me ouvindo? Olha pra mim quando eu to falando sua vadia!
Os vizinhos olham, perplexos
_Tão olhando o que? Vão todos para a puta que pariu! E você, sua cahcorra...
A lágrima
_...Você não me engane mais... O meu amor não é brinquedo não, ta certo?! Não brinca comigo não... Oh meu Deus...
O choro de menino, sentado no meio da rua. O carro policial, os vizinhos fechando as janelas, o cachorro que se aproxima e o vento frio. A janela permanece aberta, a cortina dança melindrosa. A sombra permanece,na janela.
Será ela?!
Outro gole de cachaça
_E não me apareça mais com aqueles beijos doces porque esse seu tabaco eu não como mais ta me ouvindo? Olha pra mim quando eu to falando sua vadia!
Os vizinhos olham, perplexos
_Tão olhando o que? Vão todos para a puta que pariu! E você, sua cahcorra...
A lágrima
_...Você não me engane mais... O meu amor não é brinquedo não, ta certo?! Não brinca comigo não... Oh meu Deus...
O choro de menino, sentado no meio da rua. O carro policial, os vizinhos fechando as janelas, o cachorro que se aproxima e o vento frio. A janela permanece aberta, a cortina dança melindrosa. A sombra permanece,na janela.
Será ela?!
Desespero
Onde está? Onde estão?! Localizem para mim a inspiração que me toma por um segundo e, derrepente, vai embora... localizem também o bendito novo homem, que não durou um minuto: fraco, coração vazio e solitário, vontade de chorar e mandar ao inferno o mundo. Onde estamos? Onde está? Mergulhar mais fundo para encontrar o novo homem, e a nova mulher, e o carinho, e o beijo, e o amor? Meu Deus, o que está acontecendo?
sexta-feira, 27 de junho de 2008
A busca
solitário coração instável
...
Dor de cabeça incontrolável,
Um pouco de sede e sono.
E fome!
A dor no corpo e a batalha com o transtorno do pânico que maltrata o coração, segundo o especialista, mas me faz sentir tão vivo e a esse coração cansado e solitário, esperançoso mas instável, desejoso de não sei o que mas, acima de tudo, vivos, o coração e eu... a esse pobre coração tudo provoca a sensação de estar vivo!
E como é bom querer, bem ou mal, desejar desesperadamente matar e com a mesma ânsia assassinar: com crueldade e malícia...
Perdoem esse coração puro... perdoem esse coração vilão, confuso, acolhedor e tudo.
...
Dor de cabeça incontrolável,
Um pouco de sede e sono.
E fome!
A dor no corpo e a batalha com o transtorno do pânico que maltrata o coração, segundo o especialista, mas me faz sentir tão vivo e a esse coração cansado e solitário, esperançoso mas instável, desejoso de não sei o que mas, acima de tudo, vivos, o coração e eu... a esse pobre coração tudo provoca a sensação de estar vivo!
E como é bom querer, bem ou mal, desejar desesperadamente matar e com a mesma ânsia assassinar: com crueldade e malícia...
Perdoem esse coração puro... perdoem esse coração vilão, confuso, acolhedor e tudo.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Como nasce o novo homem?
O novo homem, do novo homem, do velho homem... que louco déjà-vu é esse onde todo dia há o novo homem e, ainda assim, não é esse que reconheço como eu ou mesmo que escolhi para mim?
Será o fado fugir do espelho e não ver quem sou?
E que bobagem preocupar-se com isso se o conteúdo está fedendo...
Novo velho homem: até quando fechar os olhos para o espelho, as narinas para a carne podre e, sobretudo, os poros para a vida sedenta de ser vivida? Até quando se esse homem pode ser agora?
Será o fado fugir do espelho e não ver quem sou?
E que bobagem preocupar-se com isso se o conteúdo está fedendo...
Novo velho homem: até quando fechar os olhos para o espelho, as narinas para a carne podre e, sobretudo, os poros para a vida sedenta de ser vivida? Até quando se esse homem pode ser agora?
A briga
Sala um tanto suja, duas e meia da madrugada. Os vizinhos se acalmaram porque o apartamento se acalmou, mas a calmaria é passageira, porque o ódio é repentino porém aprofundado, prolongado, verdadeiro, pacional.
Onde reside aquele lindo amor? Onde estão os votos de perdão e compreensão? Para onde foram mandados os bons conselhos e olhares de peixe morto? Os clichês que tanto me dizes não valem para ti? Eu rio de sua desgraça e cuspo sobre ela e sobre todas as que vierem. Beba um pouco de seu próprio veneno, afogue-se em sua própria tempestade em copo d'água.
Morra, nesse triste repentino...
_ E preste atenção no que te digo! Gritou ela, com a garrafa de vodka na mão e os cabelos totalmente despenteados.
Eles não fumam. Ou pelo menos não fumavam até então. Mas as visitas deixaram um rastro de cigarro casa a dentro e a fumaça ainda empregnava os móveis e a sala; principalmente a sala, o cenário daquela tragédia moderna. As roupas pelo chão, a meia luz, o abajur atrapalhadamente colocado. Ele encostado no sofá, mas sentado no chão: camisa semi aberta e cueca, mais nada. As meias de algodão ainda nos pés mas os sapatos abandonados ao longo do corredor. Ela com outra camisa dele, também mal colocada, deixando seus lindos seios caídos à mostra. Uma calcinha de renda, as sandálias na porta. Os cabelos, eu já falei dos cabelos? Os cabelos despenteados e já encaracolados pelo suor do sexo e mesmo pelo calor do ambiente abafado. As cortinas que escondem a varanda, a rua tranqüila lá fora e, aqui dentro, tudo pesado, sobretudo a respiração. Ele não reage.
_Não me dê a sua indiferença seu merda! Agora ela chuta aquele corpo meio gordo e um pouco peludo. Ela chuta na altura de sua costela esquerda, mas a gordura localizada e os litros de álcool o fazem rir daquilo tudo. Ele cai para o outro lado, e por um segundo sai de sua transe:
_O que você quer, mulher?! Vai tomar nesse teu cú de merda... merda, cú, sacou?! Tudo a ver... Ri gostoso, despreocupado, escorregando até encontrar o chão. Ela está com muito ódio, chuta mais o seu ursinho, que rasteja pro meio da sala. A cada chute, um novo gole de vodka. Um último chute e ele agarra sua perna
_Vai pra puta que pariu, sua puta de merda! Ele puxa a perna com força, ela cai de costas pro chão. A garrafa espatifa-se e ela corta a palma da mão. Também bate com a cabeça na quina de alguma coisa que eu não sei se é a cadeira ou a mesinha. A mão sangra e a cabeça dói. Ele se preocupa. Acabou o transe?
_Puta que pariu! Olha o que você fez, sua doida... Ele não consegue se levantar.
_Você quer me matar seu porco imundo... Ela senta e põe a mão na cabeça. Na outra mão, o gargalo da garrafa e sangue.
_Você tá sangrando... Ele chora? Ou é suor? Ele está babando.
_Quem é a vagabunda? Uma dor de cabeça horrível e o mundo (a sala) girando alucinadamente.
_Me diz quem é aquela vagabunda!
_Eu não sei, eu tô bêbado porra, respeita minha viagem meu irmão! Puta que pariu! É você que eu como toda noite, deixa essas mulheres da rua em paz...
_Ah, quer dizer que tem mulher na rua?!
_Não, não tem meu amor, só tem você... Ele se aproxima dela, que está possessa e armada com um gargalo de garrafa na mão.
_Sai de perto de mim seu porco imudo, fedorento, suado; sai se não eu te mato! Ela aponta o gargalo para ele, ele olha desconfiado, certamente perguntando-se qual dos muitos gargalos seria o verdadeiro, e em seguida começa a rir, excitado:
_Vai me matar, vai?! Mata pra você tomar no cu bonito, mata. Mata e bebe meu sangue, porque aí pelo menos você é internada como louca e ninguém te mata na cadeia, sua cachorra, ingrata. O dedo na cara dela, os olhos sonolentos. Ela com os olhos chorosos de mulher traída.
_Mato - gargalo na cara dele - e faço questão matá-lo devagar, bem sofrível, bem... Ele apalpa o gargalo com a mão esquerda, não sente a dor do corte. Ela olha adimirada. Ele toma o gargalo e joga longe. Bate na porta. As vizinhas se assustam.
_Chama a polícia, Mazé! Eles tão ameaçando se matar!
_Vem Rogério, arromba logo a porra dessa porta! Sai do meio Euzira!
_Virgem santísima, Mazé, que palavriado é esse mulher?!
As duas se calam. Rogério se arrasta ao longo do corredor com sua barriga de cerveja, o chinelo velho e o roupão aberto. Seus olhos remelados e os pentelhos aparecendo por conta do pijama acabado.
_Vai pra casa vestir uma roupa Rogério!
Euzira baixa a cabeça e arruma os bobs. Ela fica vermelha com o que vê, aliada com o que já ouviu.. Ela certamente está toda molhada. Há quanto tempo não fica molhada aquela jovem senhora viúva há não sei quantos anos?
Dentro do apartamento, só se escutam sussurros.
_Eu mato e morro por você, sua vaca filha da puta. Você é a única.
_Você chamou por outra seu merda, você chamou por outra!
_Eu chamo por todas as que passaram, eu chamo pelas que virão... mas você permanece nêga.
_E pra que tanto palavrão, você não é assim...
_Eu tô bêbado caralho! Drogado, totalmente grogue, e você quer que eu...
_Eu quero você...
_Você já me tem...
_Até quando?! Os olhos cheios d'água.
_Você é cada dia um novo estranho, quando acho que já sei você é outro, e esses seus amigos, e esse povo que não te larga, essa sua vida louca, você, eu...
Ele cala a boca dela com um beijo enquanto sua mão aproxima seu corpo do dela de maneira interessante. A mão cortada que começa a sentir dor, a outra mão cortada que já não sente dor. O suor e o cheiro estranho, a pele pegajosa, os pêlos, o tapete, o sofá, a cortina, a sala.
O drama moderno que finda no sexo.
Os vizinhos na porta imaginando coisas e a solidão de cada um: uma que pensa no marido mais tarde, a outra que pensa no marido alheio qualquer hora dessas, ou no banheiro gostoso e no toque delicado que tem sido seu único parceiro desde... desde sempre? Elas se olham, vermelhas, e em seguida despedem-se. É melhor cada uma ir durmir mulher...
O amor na sala de estar, apesar do caos, dos sentimentos confusos, de tudo.
O amor sempre vence?
Onde reside aquele lindo amor? Onde estão os votos de perdão e compreensão? Para onde foram mandados os bons conselhos e olhares de peixe morto? Os clichês que tanto me dizes não valem para ti? Eu rio de sua desgraça e cuspo sobre ela e sobre todas as que vierem. Beba um pouco de seu próprio veneno, afogue-se em sua própria tempestade em copo d'água.
Morra, nesse triste repentino...
_ E preste atenção no que te digo! Gritou ela, com a garrafa de vodka na mão e os cabelos totalmente despenteados.
Eles não fumam. Ou pelo menos não fumavam até então. Mas as visitas deixaram um rastro de cigarro casa a dentro e a fumaça ainda empregnava os móveis e a sala; principalmente a sala, o cenário daquela tragédia moderna. As roupas pelo chão, a meia luz, o abajur atrapalhadamente colocado. Ele encostado no sofá, mas sentado no chão: camisa semi aberta e cueca, mais nada. As meias de algodão ainda nos pés mas os sapatos abandonados ao longo do corredor. Ela com outra camisa dele, também mal colocada, deixando seus lindos seios caídos à mostra. Uma calcinha de renda, as sandálias na porta. Os cabelos, eu já falei dos cabelos? Os cabelos despenteados e já encaracolados pelo suor do sexo e mesmo pelo calor do ambiente abafado. As cortinas que escondem a varanda, a rua tranqüila lá fora e, aqui dentro, tudo pesado, sobretudo a respiração. Ele não reage.
_Não me dê a sua indiferença seu merda! Agora ela chuta aquele corpo meio gordo e um pouco peludo. Ela chuta na altura de sua costela esquerda, mas a gordura localizada e os litros de álcool o fazem rir daquilo tudo. Ele cai para o outro lado, e por um segundo sai de sua transe:
_O que você quer, mulher?! Vai tomar nesse teu cú de merda... merda, cú, sacou?! Tudo a ver... Ri gostoso, despreocupado, escorregando até encontrar o chão. Ela está com muito ódio, chuta mais o seu ursinho, que rasteja pro meio da sala. A cada chute, um novo gole de vodka. Um último chute e ele agarra sua perna
_Vai pra puta que pariu, sua puta de merda! Ele puxa a perna com força, ela cai de costas pro chão. A garrafa espatifa-se e ela corta a palma da mão. Também bate com a cabeça na quina de alguma coisa que eu não sei se é a cadeira ou a mesinha. A mão sangra e a cabeça dói. Ele se preocupa. Acabou o transe?
_Puta que pariu! Olha o que você fez, sua doida... Ele não consegue se levantar.
_Você quer me matar seu porco imundo... Ela senta e põe a mão na cabeça. Na outra mão, o gargalo da garrafa e sangue.
_Você tá sangrando... Ele chora? Ou é suor? Ele está babando.
_Quem é a vagabunda? Uma dor de cabeça horrível e o mundo (a sala) girando alucinadamente.
_Me diz quem é aquela vagabunda!
_Eu não sei, eu tô bêbado porra, respeita minha viagem meu irmão! Puta que pariu! É você que eu como toda noite, deixa essas mulheres da rua em paz...
_Ah, quer dizer que tem mulher na rua?!
_Não, não tem meu amor, só tem você... Ele se aproxima dela, que está possessa e armada com um gargalo de garrafa na mão.
_Sai de perto de mim seu porco imudo, fedorento, suado; sai se não eu te mato! Ela aponta o gargalo para ele, ele olha desconfiado, certamente perguntando-se qual dos muitos gargalos seria o verdadeiro, e em seguida começa a rir, excitado:
_Vai me matar, vai?! Mata pra você tomar no cu bonito, mata. Mata e bebe meu sangue, porque aí pelo menos você é internada como louca e ninguém te mata na cadeia, sua cachorra, ingrata. O dedo na cara dela, os olhos sonolentos. Ela com os olhos chorosos de mulher traída.
_Mato - gargalo na cara dele - e faço questão matá-lo devagar, bem sofrível, bem... Ele apalpa o gargalo com a mão esquerda, não sente a dor do corte. Ela olha adimirada. Ele toma o gargalo e joga longe. Bate na porta. As vizinhas se assustam.
_Chama a polícia, Mazé! Eles tão ameaçando se matar!
_Vem Rogério, arromba logo a porra dessa porta! Sai do meio Euzira!
_Virgem santísima, Mazé, que palavriado é esse mulher?!
As duas se calam. Rogério se arrasta ao longo do corredor com sua barriga de cerveja, o chinelo velho e o roupão aberto. Seus olhos remelados e os pentelhos aparecendo por conta do pijama acabado.
_Vai pra casa vestir uma roupa Rogério!
Euzira baixa a cabeça e arruma os bobs. Ela fica vermelha com o que vê, aliada com o que já ouviu.. Ela certamente está toda molhada. Há quanto tempo não fica molhada aquela jovem senhora viúva há não sei quantos anos?
Dentro do apartamento, só se escutam sussurros.
_Eu mato e morro por você, sua vaca filha da puta. Você é a única.
_Você chamou por outra seu merda, você chamou por outra!
_Eu chamo por todas as que passaram, eu chamo pelas que virão... mas você permanece nêga.
_E pra que tanto palavrão, você não é assim...
_Eu tô bêbado caralho! Drogado, totalmente grogue, e você quer que eu...
_Eu quero você...
_Você já me tem...
_Até quando?! Os olhos cheios d'água.
_Você é cada dia um novo estranho, quando acho que já sei você é outro, e esses seus amigos, e esse povo que não te larga, essa sua vida louca, você, eu...
Ele cala a boca dela com um beijo enquanto sua mão aproxima seu corpo do dela de maneira interessante. A mão cortada que começa a sentir dor, a outra mão cortada que já não sente dor. O suor e o cheiro estranho, a pele pegajosa, os pêlos, o tapete, o sofá, a cortina, a sala.
O drama moderno que finda no sexo.
Os vizinhos na porta imaginando coisas e a solidão de cada um: uma que pensa no marido mais tarde, a outra que pensa no marido alheio qualquer hora dessas, ou no banheiro gostoso e no toque delicado que tem sido seu único parceiro desde... desde sempre? Elas se olham, vermelhas, e em seguida despedem-se. É melhor cada uma ir durmir mulher...
O amor na sala de estar, apesar do caos, dos sentimentos confusos, de tudo.
O amor sempre vence?
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Recado
Eu não quero ser só seu porto seguro, sua garantia de favores bem feitos em troca de um "muito obrigada" chocho.
Quero ser muito mais!
Quero ser o ar que te faz bem, não o ar quando te falta.
E também não quero ser o das horas vagas, mas o da hora exata.
E quero também achar a inspiração correta para numa única palavra dizer que quero ser, apesar do cansasso que me toma e de tudo.
Eu quero mais.
Quero ser muito mais!
Quero ser o ar que te faz bem, não o ar quando te falta.
E também não quero ser o das horas vagas, mas o da hora exata.
E quero também achar a inspiração correta para numa única palavra dizer que quero ser, apesar do cansasso que me toma e de tudo.
Eu quero mais.
Oito minutos e alguns décimos
Relatos de uma noite estranha: a ânsia por estar junto, a amizade aparentemente estremessida, a presença sempre mal vinda, a aniversariante estressada, todo mundo cansado e a cerveja quente. No céu, no céu, no céu, estão caindo as estrelas.
_Meu bem, você precisa vê-las brilar...
I
8 e pouco da noite.
Estou sozinho na mesa de um bar vazio. A cerveja quente, o clima úmido. Pernas e ombros cansados, coração palpitante, saudade. O que são os minutos que precedem o momento de prazer que vem logo em seguida? É tanta ânsia que cinco minutos são duros de esperar...
O copo de cerveja, a mesa vazia, os celulares com dez contos e pouco, onze reais de crédito. Não muito, mas o suficiente para me apegar a eles e ligar para todos, desesperadamente, na esperança de que não me abandonem mas, pelo contrário, venham todos até mim para que eu fique, por cinco minutos, feliz...
Mas que demora, eles não chegam! Já se passaram cinco minutos e nada!
Vocês não vêm? Onde estão?
Depois da garantia de que eles vêm, respiro. Mas será que vêm mesmo? Será que tudo isso não é um grande complô para me destruir, isso tudo não será em vão, será em vão? Eis a bendita dúvida que sempre me acompanha e, no fundo, é a única certeza nisso tudo: o que vem depois? Os amigos? Dez minutos de prazer, quem sabe ela, alegria, enfim a vida começaria a dez minutos, ou daqui a pouco, ou agora?
Onde estão todos, não agüento mais esperar...
Me calo!
II
8 e pouca da noite dez minutos depois.
Bêbado, depois de alguns copo de cerveja, acomodo-me confortavelmente na cadeira e peço outra cerveja. Observo o copo suado e começo com minha filosofia de solitário-dramático:
_Que deprimente essa solidão de dez minutos!
Ao fundo Marisa, e por todos os lados a fumaça de cigarros que exalam o prazer alheio e... Acabou-se! Chegaram, finalmente, todos!
Refaço-me rapidamente de toda minha deprimencia e procuro o sorriso mais forçado. Sentam-se todos ao meu lado com a cara de cansados e eu...
III
9 horas da noite.
Caminho meio mole pelas ruas, a cerveja me deixou mais tonto, mas a solidão foi o que embreagou deverdade, a decepção foi o que me destruiu por completo. O drama me corrói e a esperança me alimenta.
Vou para casa mais cansado. Desculpem... foi só uma forma de desabafar.
_Meu bem, você precisa vê-las brilar...
I
8 e pouco da noite.
Estou sozinho na mesa de um bar vazio. A cerveja quente, o clima úmido. Pernas e ombros cansados, coração palpitante, saudade. O que são os minutos que precedem o momento de prazer que vem logo em seguida? É tanta ânsia que cinco minutos são duros de esperar...
O copo de cerveja, a mesa vazia, os celulares com dez contos e pouco, onze reais de crédito. Não muito, mas o suficiente para me apegar a eles e ligar para todos, desesperadamente, na esperança de que não me abandonem mas, pelo contrário, venham todos até mim para que eu fique, por cinco minutos, feliz...
Mas que demora, eles não chegam! Já se passaram cinco minutos e nada!
Vocês não vêm? Onde estão?
Depois da garantia de que eles vêm, respiro. Mas será que vêm mesmo? Será que tudo isso não é um grande complô para me destruir, isso tudo não será em vão, será em vão? Eis a bendita dúvida que sempre me acompanha e, no fundo, é a única certeza nisso tudo: o que vem depois? Os amigos? Dez minutos de prazer, quem sabe ela, alegria, enfim a vida começaria a dez minutos, ou daqui a pouco, ou agora?
Onde estão todos, não agüento mais esperar...
Me calo!
II
8 e pouca da noite dez minutos depois.
Bêbado, depois de alguns copo de cerveja, acomodo-me confortavelmente na cadeira e peço outra cerveja. Observo o copo suado e começo com minha filosofia de solitário-dramático:
_Que deprimente essa solidão de dez minutos!
Ao fundo Marisa, e por todos os lados a fumaça de cigarros que exalam o prazer alheio e... Acabou-se! Chegaram, finalmente, todos!
Refaço-me rapidamente de toda minha deprimencia e procuro o sorriso mais forçado. Sentam-se todos ao meu lado com a cara de cansados e eu...
III
9 horas da noite.
Caminho meio mole pelas ruas, a cerveja me deixou mais tonto, mas a solidão foi o que embreagou deverdade, a decepção foi o que me destruiu por completo. O drama me corrói e a esperança me alimenta.
Vou para casa mais cansado. Desculpem... foi só uma forma de desabafar.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Faz uma loucura por mim
Faz uma loucura por mim
Sai gritando por aí bebendo e chora
Toma um porre, picha um muro que me adora
Faz uma loucura por mim
Fica até de madrugada, perde a hora
Sai comigo pra gandaia noite afora
Só assim eu acredito nessa história
Que você sentiu saudade de me ter
Põe na prática besteiras da memória
Pensa menos, faz de tudo, manda ver
Vem pra dentro, tenta ser da mesma escória
Como já fiz mil loucuras por você
Nós dois se é pra recomeçar que seja até o fim
Nós dois se não é pra ficar, não gaste o teu latim
Nós dois, só posso te aceitar ao ver que você faz
Uma loucura por mim
Depois que você me provar que vai fazer assim
Depois você pode provar o que quiser de mim
Depois já posso acreditar que você foi capaz
De uma loucura por mim
Faz uma loucura por mim
Se tem outra em tua vida manda embora
Um viva à Marron - SEMPRE!
(Chico Roque e Sérgio Caetano)
terça-feira, 10 de junho de 2008
Mágoa diária da ferida
Ao me renovar, me debato em mim mesmo e me arrasto, rastejo mas avanço: um passo, meio mal dado, em falso, fraco.
É o fado: tentar desesperado e avançar pouco, ou nada, mas sempre, porque o avanço, as dores, as melhoras e tudo pertence a um tempo que nem eu mesmo sei. Simplesmente vivo e espero, e fecho o olho por longos dias em frente ao espelho da alma para perceber de uma vez os pequenos passos de cada novo dia.
E debato, rastejo, avanço e me conformo: é preciso magoar a ferida mais uma vez.
É o fado: tentar desesperado e avançar pouco, ou nada, mas sempre, porque o avanço, as dores, as melhoras e tudo pertence a um tempo que nem eu mesmo sei. Simplesmente vivo e espero, e fecho o olho por longos dias em frente ao espelho da alma para perceber de uma vez os pequenos passos de cada novo dia.
E debato, rastejo, avanço e me conformo: é preciso magoar a ferida mais uma vez.
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