Minha cara amada, peço insistentemente para que fujamos enquanto há tempo, porque a loucura está me tomando todo, e a cada dia essa solidão estranha e amarga me mata um pouco mais e um pouco mais.
Mata mais e mais, mas não me mata de verdade, amada minha, pelo contrário: me deixa vivo para os detalhes e sensível à estupidez alheia e afim, de maneira que meu maior desejo nos últimos momentos, depois de suas doces entranhas, é a destruição do outro por métodos malignos e delicados, mas maus, todos, e muito sangrentos, estraçalhados resumidamente. À boçalidade e idiotice alheia desejo matar devagar e pausadamente; amarrar num tronco e esfaquear até vê-lo secar; cortar aos pedaços; passar por cima e tornar uma massa homogênea; matar simplesmente.
E para que eu não mate nem morra, amada minha, peço que fujamos para aquele doce refúgio que só encontro no balanço doce de seus cabelos limpos e cheirosos, no embaraço mágico de suas pernas, na sua boca, nos seus olhos, no seu ser, enfim.
Salve-me amada minha, enquanto há tempo. Salva-me, amada minha.
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