Quando o destino brinca de coincidência com você para onde correr?
Foram-se apenas três minutos desde o último contato telefônico. Centro do inferno, pessoas cansadas indo e vindo, máquinas furiosas e cemáforos burocráticos que carimbam os segundos perdidos em nossas úlceras. Sim, "o sistema cobra-te segundos preciosos, não os percam", diz o cartaz. Melhor que fosse uma pixação.
A sensação de pegar o ônibus errado e por isso estar mais longe dela era, de longe, o fantasma mais antigo, e ainda assim a mais nova das novidades. Vai engarrafar, dizia minha intuição. E só hoje eu estava um pouco mais mulher que nos outros dias. Lésbica, bem verdade, mas mulher...
Numa cidade grande e congestionada, em horário de rush, ter pressa é pecado, escolher o caminho mais curto é ilusão, e esse ônibus errado que só vai me levar para o mais distante da rua que se precisa chegar é o fim, enfim... Foram esses breves devaneios que me fizeram ver que se estava mais perto que antes, mas ainda assim distante, e por isso ansioso. Como coisa de Deus, o mp3 toca algo que parece um mantra. Música que acalma. Eu rio da coincidência e continuo a escrever, afinal, mais um pouco e já não estarei mais longe. E mais um pouco para estar na parada certa, prestes a correr para chegar mais perto, quando ela está em minha frente, à espera do seu, e eu já não tenho motivos para correr.
Seu olhar me diz que as linhas não são tão tortas para Quem escreveu, simplesmente são linhas que se escreve. E ponto. Como não aguento mais de saudade, nem consigo esconder de ninguém a vontade de querê-la, sorrio e aperto os lábios. Coincidentemente estamos na frente de minha casa, e o engarrafamento agora é só de pessoas e mendigos pelas calçadas. Pego sua mão e subimos as escadas, o mp3 agora toca algo de amor, coincidência maior impossível... se bem que os celulares também estão no silencioso e hoje está menos quente: não foi preciso ligar o ventilador.
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