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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Espelho

Eu posso deixar de fumar, posso deixar de amar, posso me trancar do mundo e não ouvir a opinião alheia, me mudar para uma sociedade nova, isolar-me no quarto, cortar a cabeça do dedo com a faca; eu posso fazer tudo e ainda assim haverá uma coisa da qual não poderei fugir... é um negócio estranho, muito pessoal,que usa-se constantemente mas faz parte de mim e, inclusive, é mim, é eu, é carne, consciência e companheira:

Imaginação...

Dela eu fujo como o louco, porque nela eu me liberto das correntes e construo um mundo todo meu, com meu jeito, com meus desejos, meu mundo: extremamente egocêntrico, desrespeitoso e egoísta.

Mas esse mundo, fantástico, esse mundo é um mundo que não resiste à realidade, e por isso eu fujo, porque de imaterial já me bastam as promessas. Fujo desesperado, incomodado, atormentado com tamanha beleza e entristecido, porque seria tão lindo, e ali o vôo tão alto. Mas não é de verdade, porque o que é meu de verdade tem de ser de carne e osso, tem de ser matéria, cheiro de café, lágrima e toque, ainda que de dor, mas lágrima. E salgada, por favor...

O que é meu deve ser real e tocável...
O que é meu tem um pouco de mim com o toque do mundo, e o que estiver apenas dentro de minhas idéia, não me serve por completo...

Abaixo o viver sem sentidos... Quero cheiro, toque, língua e delírios. Quero visões, quero verdade, quero tudo que tenho direito.

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