BlogBlogs.Com.Br

Pesquisar este blog

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Brinquedo - continuação do ato de enlouquecer

Banheiro. O banho depois do amor. Ela se enxuga pacientemente, ele senta-se no chão gelado. Ela nada diz há, pelo menos, um minuto. Ele já pensa besteira. Ela veste a roupa. Ele observa. Ela vai embora. Ele se desespera.

Sou teu, todo teu, como nunca fui de mais ninguém, completamente.

Eu sei amor, responde meio fria. Ou simplista?

Faça de mim um escravo, se bem que isso eu já sou... Mas faça também um tapete, um porto seguro, um bichinho, um passa tepo, um qualquer coisa que seja teu. Faça tudo comigo, mas por favor, não brinque comigo amor, porque se há algo que desrói o amar, esse algo chama-se brincar.

Que lindo amor! Mas tô bêbada ainda, não to entendendo bem o que dizes... Bebe outro gole de vinho.

Admito que mintas baixinho, de leve, rasteiro e tudo mais... Mas se brincas com o que sinto, se me enganas de verdade, se me queres fácil pra depois jogar fora, juro amor, morro na hora, mas depois levanto e te...

Te mato! Interrompe ela, meio tonta, às gargalhadas. Os atos disfarçam as lágrimas que surgem em seus olhos: emoção pela declaração... Mas que emoção? Medo? Admiração?

Eu te mato, e mato não pelas vias comuns, porque se morreres não haverá mais graça... Mato você pelas vias da alma...

Seus olhos brilham... O dela também. A lágrima...

Te apago da minha vida, afasto o mundo de você e te ofereço toda minha indiferença que puder te dar. E se for pouca, te ofereço também minha piedade, minhas migalhas e, depois, minha profunda distância e desatenção. Pra sempre amor, pra sempre...

Ela desliza encostada na parede, agora os olhos estão no mesmo nível. As lágrimas...

Não pense que te quero mal, amor, não quero... É que é tanto amor que te tenho que não admito que machuques minha alma... Conheço a tua como a palma de minha mão, e no dia que me enganares assim, machuco direto onde sei que dói mais, porque se me observasses bem, sabes que não sou de rodeios, mas de ação: milimétrica e muito bem pensada para não ter que agir de novo.

Enchuga as lágrimas dela. Ela cospe em seu rosto. Ele não consegue desviar. O ar está humido, apesar do chão aparentemente frio. O mundo gira para os dois, há um doce cheiro de vinho.

Pronto amor. Pode ir... Desculpe-me se te assustei amor, mas é assim que sou...

Por que te envenenas? Pergunta. Não vês que te matas aos poucos com esse ci´me doentio e esse amor desvairado? Se acabar o amor, meu caro, de nada adiantará a tua fúria ou os teus lamentos, porque assim é o amor: imprevisível. Não sabes que te amo? Pois aguças teus sentidos e pára de beber. Prestas mais atenção ao que faço e digo, e se ainda assim não encontrares, diz-me o que queres que eu faça que assim o farei. Juro.

Abraçam-se e choram.

Amam-se ali mesmo. Depois dormem.

Um comentário:

  1. Você está cada vez melhor com os palavras, Leo. Muito bom vir aqui e encontrar vários textos novos. Inspiração a mil, hein?

    :)

    ResponderExcluir