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quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Seca...

Talvez seja eu e não você, disse cabisbaixa, o que se há de fazer? Melhor esquecer, né?! O que se há de fazer... é melhor esquecer...

Dentro dele havia tanto ódio, tanta tristeza, tanta coisa ruim que nem ele mesmo sabia explicar; simplesmente quis chorar e nao pôde. Estou seco, pensou, de mim não sai uma lágrima... O que vai ser de mim se agora nem, ao menos, posso...

O que fazer? Fazer...

Olhou ao redor e não tinha nada a que se apegar ou mesmo a quem chamar. Todos ao seu redor lhe eram estranhos, e, sinceramente, fodam-se todas as boas intensões do mundo. Ao inferno a boas relações... Perco meu tempo, pensou, me dedicando a pessoas de merda quando poderia durmir e, assim, libertar minha alma... Só nos meus sonhos sou realmente livre para ser feliz, ainda que seja no pior dos pesadelos. Só fora de mim eu sou feliz, só fora de mim...

Derrepente alguém se aproximou e interrompeu-se aquele momento de alguma coisa. Não sei o que estou fazendo aqui, disse meio tímido, revoltado com o mundo mas ainda preocupado com o que sentem os outros: "paciência, paciência" era tudo que ouvia dentro de si...

Tudo bem, alguém respondeu, há coisas piores...

Quando se deu conta, estava noutro lugar; lugar qualquer, ou lugar nenhum... Que importa se ainda estava preso. Pensou que podia ser feliz, e que tudo poderia ser mais simples, mas naquele dia ele foi condenado a não fugir... Sentiu cada parte de seu corpo depois de uma semana de sono mal durmido. Seus olhos ardiam, seus gases lhe palpitavam a barriga como espetos, seus ombros estavam mais caídos do que nunca e seus pés simplesmente não resistiriam a mais um minuto... Esperou pelo ônibus 50 minutos. E sobreviveu. Depois desmaiou... e sonhou: seco e sem vida. Seco...

E depois sonhou dinovo, e dinovo, e dinovo e dinovo... E o tempo passou, e ele sonhou, e o tempo passou... A vida passou...

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