Voltaram a se encontrar, já sem muito desejo, se bem que o desejo, reprimido, torna-se mais forte... A obcessão de não aceitar, que aparentemente encarou-se como "a cura do amor impossível" transforma-se no doce veneno de querer possuir, ser um... amar, quem sabe...
Voltaram a se encontrar, e durante todo aquele dia quente, procuraram mal se encarar, talvez já prevendo a explosão que aquela abstinência poderiam provocar. Inevitável, porém, o momento da saída: elevador, poucas pessoas, velhas tecnologias e um dedo do "destino" que faz o meio de transporte falhar justamente naquele momento, que não poderia ser mais impróprio, ou poderia...
_ Desce?
_ Desce sim... Eh... Tudo bem contigo?, perguntou meio sem graça.
_ Sim, respondeu olhando para o chão, não tão bem quanto poderia, mas fazer o que, né?
_ Não sei...
_ O que?
_ O que fazer, você disse: "fazer o que?", eu digo "não sei"...
_ Ah...
_Calor, né?
Silêncio humano, barulho mecânico: Deus e o diabo em meio metro de desejo...
Aquele ar abafado, toda a trepidação, o destino, a vida, os hormônios, o desejo, o sangue, a vida, a vida, oh vida... no impacto da freada, quando deram por si, estavam abraçados, mortos de desejo mas vivos de amor, enlouquecidos por uma paixão como nunca sentiram, e que talvez ninguém nunca tenha sentido... Quando deram por si estavam ali, um dentro do outro, agora um único pedaço de carne, que agora não era qualquer objeto inanimado que apenas sobrevivia, mas carne viva, a própria vida em si. Ele rasgou sua blusa com os dentes, enquanto a mão dela afastava de seus corpos qualquer objeto que os impedisse de sentir o calor, agora bom, que um exalava ao outro.
Amaram... e depois dormiram... e depois acordaram... depois se arrependeram de ato tão humano porque todos descobriram e que seria deles agora que todos sabem, que todos viram, que todos... mas que se danem os outros, poderiam pensar. Mas, aí, descobriram que não pensavam, que como parte de um sistema, suas vidas não eram próprias... seus desejos não eram seus e eles simplesmente... "Adeus"...
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