- pedras;
- ingratidão;
- confusão;
- "Quem sou? Bem, isso já é demais. (...). É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tenho que falar não só exprimo o que sinto como o que sinto se transfoma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos o que me faz agir não é o que eu sinto, mas o que eu digo. Sinto que sou e a impressão está alojada na parte alta do cérebro, nos lábios - na língua principalmente - , na superfície dos braços e também correndo dentro, bem dentro do meu corpo, mas onde, onde mesmo, eu não sei dizer."
- _ O que se consegue quando se fica feliz?, sua voz era uma seta clara e fina. A professora olhou para Joana.
_ Repita a pergunta...?
Silêncio. A professora sorriu arrumando os livros.
_ Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi.
_ Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - Repetiu a menina com obstinação.
A mulher encarava-a surpresa.
_ Que idéia! Acho que não sei o que você quer dizer, que idéia! Faça a mesma pergunta com outras palavras...
_ Ser feliz é para se conseguir o que?
A professora enrubesceu - nunca se sabia dizer por que ela avermelhava. Notou toda a turma, mandou-a dispersar para o recreio.
O servente veio chamar a menin para o gabinete. A professora lá se achava:
_ Sente-se... Brincou muito?
_ Um pouco...
_ Que é que você vai ser quando for grande?
_ Não sei.
_ Bem. Olhe, eu tive também uma idéia - corou.
_ Pegue um pedaço de papel, escreva essa pergunta que você me fez hoje e guarde-a durante muito tempo. Quando você for grande leia-a de novo. - Olhou-a. - Quem sabe? Talvez um dia você mesma possa respondê-la de algum modo... - Perdeu o ar sério, corou. - Ou talvez isso não tenha importância e pelo menos você se dirvetirá com...
_ Não.
_ Não o quê? - perguntou surpresa a professora.
... - _ você já pensou que um ponto, um único ponto sem dimensões, é o máximo de solidão?
e só... pelo menos, até então... quem sabe amanhã, quando eu sonhar mais...
(LISPECTOR, Clarice. Perto do Coração selvagem. Ed. Nova Fronteira)
Oi meu amigo!
ResponderExcluirLinda alusão sua à esta música que embora seja de letra de simples compreensão, consegue traduzir o que se passa de mais profundo e ao mesmo tempo se "esconde" dentro da alma de um sonhador(a)...
Somos realmente criaturas feitas -nascidas- para sermos "mutantes"... É a Lei da Seleção Natural; apenas segue o curso evolutivo tanto material quanto espiritual, aqueles seres que têem capacidade de adapção à toda e qualquer situação (mesmo que dolorosa!) e ainda possuem o dom da coragem para assumir essa mudança.
Parabéns pela feliz escolha do tema do Blogg com esta linda homenagem aos "romaticos de plantão"- por condição e opção - tendo por intérprete a "1ª Dama do rock nacional" e autêntica e incomparável: Rita Lee, "madrinha e precursora" dos romanticos "malucos-beleza"!
Beijos no seu coração,
Suri...
kiss-me baby, kiss-me!
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