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domingo, 13 de junho de 2010

Nana

Tolo, foi o que ela disse depois de abrir meu coração a ela, justo ela, aquele gosto bom de passado mal vivido mas, quem se importa, se ainda há futuro? Não, ela não disse exatamente tolo, ou disse, mas minha cabeça estava tão cheia de sentimentos e adrenalina, e eram o que? Oito horas e poucos minutos de uma manhã mal começada? Eu não posso dizer se ela me chamou de tolo. Mas foi tolo que me veio à cabeça. Foi sim.
Na noite passada eu pensei nisso tudo, nos meus sentimentos que não são medos, são apenas abusos de tudo e a tudo, a alma prolixa de Clarice, mas eu pensei nisso tudo e pensei também em como seria bom entrar em uma das tantas igrejas para tapar esse vazio aqui com a Palavra do Senhor... seria cômodo: eu deveia virar logo pastor, porque aí, à hora a tentação, eu correria ao palco e diria milhões de améns até que meu tesão ou sede ou loucura passasse... anestesiava-me de qualquer droga lícita e viveria até os sessenta, também ão precisaria trabalhar... pensei. E achei melhor não.
Aí ela me chama de tolo, ou algo parecido, e diz que esse meu vazio e essa procura me deixarão louco; mas louco eu já sou, pensei, e mais: e se você ficar louca primeiro, arrisquei. Como?, respondeu. Eu reinterei - A mesma possibilidade que tenho de ficar louco você também tem. E arrebatei: quem pode dizer?!
Calamos.
Pois você era o homem que eu queria quando estava internada com meu filho, eu sozinha na Província de Arrecifes e você o único homem para me ajudar, blá blá blá, até ali eu sabia que era você...
E pronto. Aqui aqueles laços de passado que persistiam nesse presente e ainda davam aquela esperança de futuro foram desatados - eu amava a uma Nana transloucada, aquela que essa nova Neidjane matou cada dia um pouco mais, e aquela sim era ousada, bonita, má, era aquela que eu necessitava para preencher esses devaneios meus. E eu, exatamente, também não era mais o menino que ela queria que eu fosse, parado no tempo mas maduro, com a doçura de antes mas sem questionar, apenas olhar para frente e confiar... Sem perceber, eu segui a linha dela e ela saiu da dela para aprimorar ainda mais a minha. Que linha? A linha de vida. A dela era torta, agora é a minha, e ela, igualmente torta, mas na que era minha.
Ela disse ainda que eu usava de uma poesia superficial e parnasiana, cheia de metáforas, para esconder meus vazios e frustrações...
Ela me analisou como sou e, DANADA! Ela ainda me tem em suas mãos. Nossas almas, disse a ela, nossas almas são irmãs, minha querida amiga. E antes que entendessemos isso, nossos corpos e hormônios confundiram tudo. Mas isso não é ruim, conclui comigo mesmo, já sem escrever mais nenhuma palavra. Antes, no começo dessa conversa, em comum tinhamos também a tristeza em nossos corações, mas ao fim, não sei a ela, mas a mim sobrou um coração aliviado e tranquilo.
Você me faz bem, conclui. E agora tenho que sair. Nos vemos, sempre.
Ela deve ter dito alguma coisa que não vi porque fui trabalhar. Havia expediente na caverna.

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