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terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Última Ceia

Tudo ainda era muito constrangedor e tinha gostinho de mentira. Mas era só o começo e eles tinham a boa intenção de melhorar; exatamente todos queriam, agora, algo novo.
Por isso, naquela manhã de domingo, todos se paparicavam, diziam palavras doces, e ele, especialmente, cozinhou caprichosamente para sua família.
Na hora do almoço, pouco foi dito à mesa. Tirando um segundo ou outro de constrangimento, o momento era mesmo de contemplação.

Mais algumas horas e estariam, novamente, separados, por entre caminhos opostos ao caminho que pedia o coração, mas com tudo em seu lugar, tudo que era realmente importante, o resto seria mais fácil, agradável quem sabe...

Na hora da despedida, um abraço forte e a vontade de chorar, sempre ela, sempre o medo de parecer fraco, sempre a vergonha de chorar na frente do outro e novamente aquele teatro, aquelas mentirinhas de filho forte, pai austero... O coração apertado, mas deveria ser normal, porque intuição é coisa de mulher, e isso não é intuição, isso é coração apertado. Ele predia o choro e lembrava da carta que escrevera... Pedira para não sofrer mais, para cada coisa voltar a seu lugar. Lembrou também do alerta que perdiam tempo e logo poderia ser tarde. Lembrou, novamente, do coração apertado e detectou o suor frio e as mão trêmulas. Pensou em como, de fato, não se conhecera. Lembrou, também, do tempero fraco do almoço, nada de anormal e, mesmo assim, como fizera falta um momento como aquele. Lembrou dos amigos do trabalho, dos quais poucos de despediu na sexta-feira. E de Luciana, que cobrou um abraço pela manhã. Ainda está estressado? Ela perguntou. Talvez seja a gastrite, lembrou que respondeu... Pensou em como seria ruim não mais vê-los, sobretudo aquele novo amigo que tanto admirara, amava para falar a verdade, e lembrou-se de como é difícil a conjulgação do verbo amar. Lembrou dos pais, tão longe mas agora todos em paz, e, por um momento, fechou os olhos e depois amedrontou-se com a possibilidade da morte, com a qualidade daquela estrada, com a possiblidade de [ou impossibilidade de não] viver o suficiente para fazer o que sempre quis... mas será que dará tempo de fazer tudo que quero?...

Chovia.

Procurou não pensar em nada mas o ônibus ia rápido, as curvas escuras, close your eyes and dream, dizia a música... Não houve tempo. Uma carreta, o coração apertado e as benditas leis da gravidade... Abriu o olho e depois fechou. Um corte na cabeça, a dor de cabeça, e outras cabeças e ponto. Seria, assim, o fim? Lembrar de tudo horas antes de morrer e não segundo antes de morrer?

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