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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Contemplação

Porque quando a alma está cansada, distante e triste, mesmo estando aqui [daqui perdeu-se o texto original e aplicou-se um remendo], o jeito é fechar os olhos, abrir os poros e [ao menos tentar] ser feliz.




Clarisse

Pegou o café mas não tomou. Sentou-se à beira da piscina e ficou a olhar o céu, as poucas núvens, a brisa de sábado, aquele encontro. O outro fitou e perguntou:

Você é feli...

Sabe qual é meu problema, interrompeu, sem abandonar as núvens, o café estava doce, depende muito do ponto de vista sobre ser feliz, e eu me dou ao direito de não me contentar com a felicidade "convencional", essa que vem e depois vai embora de nossa vida, sabe? Olhou para ele. As boca aberta e sobrancelhas arqueadas deram-lhe a ideia de que ele não o entendera. Mas dessa vez continuou. É difícil de entender, eu sei, mas a questão é que quero sempre mais das coisas, e às vezes acho que sou levemente mais feliz que você. Mas você me acha menos feliz, justamente, por eu estar nessa luta insana... E estamos sempre comparando nossa felicidade e, às vezes, querendo a felicidade alheia... Riu. O outro não entendera dieito, por isso riu também.

Deve ser, disse, olhand para qualquer lugar.

"Você entendeu?", pensou dizer, e aí calou-se. É, dev ser... preferiu, desistindo de explicar e, preferindo, trancar-se em si mesmo, de onde, pensou, "nunca deveria ter saído, não hoje"... voltou ao céu em um único gole e o outro saiu para pegar outra coisa.

Volto logo...

Tudo aquilo apertou seu coração aflito, "será que expresso tão mal tudo que sinto, ou será que o que sinto é tão louco que nem eu mesmo sei? Análise recolveria? Ou ainda posso não gostar de nada, ou não sei o que quero e ficonesse devaneio"... fechou os olhos. A brisa lhe tomou o rosto, ele estava feliz apesar de tudo. "Se não gostasse dele", pensou, "não teria tentado explicar-lhe..." e gostar de alguém o deixava feliz, o que significava que

Sim, pensou alto, eu estou feliz. Ele voltou à mesa, o outro lhe trouxe outro copo de café com leite. Voltaram-se para os assuntos de trabalho e renda. fazia calor.

Pai, filho e espírito santo

O doente à espera de cirurgia, estirado à mesa de operações, ante a anestesia que antecede o primeiro corte da cirurgia definitiva, deve, solitariamente com sigo mesmo pensar na vida

Ou na morte

De quantas coisas deixará de fazer, ou de como tudo será diferente daqui pra frente, de lá para frente [lá depois da cirurgia]... como a esperança e o medo podem ser sentimentos tão parecidos, como nos conhecemos mais momentos que precedem o momento derradeiro, o silêncio.

Na verdade, não era numa mesa de cirurgia em que me encontrava, era só mais uma viagem para casa, que teria tudo para ser agradável e doce não fosse em nome do pai; e confusa e definitiva e ameaçadora e esperançosa tão e quanto só por causa dele, o dono da porra que, em minha mãe, dentro de minha mãe, ofereceu ao mundo essa aberração, tão querido e, ainda assim, mal resolvido, medroso, mutante vilaozinho assassino de sonhos louco sozinho.

Talvez

Talvez fossem as horas mal durmidas, talvez a saudade do novo amigo, a paixão mal resolvida por motivos óbvios - o seu medo de amar... e em meio a tudo isso, onde se encontrava agora? A segundos de uma delicada cirurgia que, se bem sucedida, acabaria com aquela coisa ruim na barriga, aquele medo de dizer "te amo" e, quem sabe, resolveria tudo, tudo que realmente é importante, porque com o refúgio seguro, a vida era só um agradável laboratório que voltaria a ser feliz, experimentativo e agradável finalmente.

Em nome do pai, como nunca, mesmo com as iminências de um fim, porque nele, o filho, surgiriam flores depois de um pasto tantas vezes devastado pelo pai, filhos e espírito santo - a mãe, que pela primeira vez , concluiria mais tarde, não era tão santa mas, como ele, e aí a explicação mais lógica para esta tempestade em copo d'água, suas falhas e defeitos, era volúvel, sofredora e ainda assim crente em um futuro qualquer, futuro melhor. E diferente dele, ela se anulava para ser feliz, ele não...


Agosto de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

Despertar...

Despertar...

Sou Nada e você Sonho
Seu manto negro coberto de chamas me prende
Sua boca cheia de responsabilidades me cala
Seus olhos de estrelas profundas me sufocam
Seu orgulho me desnorteia
Uma simples mortal não deveria amar um perpétuo
Não posso lutar contra isso
Mas não posso ver o futuro do meu povo destruído pelo meu amor
E o meu amor é armadilha de Desejo
E o meu desejo por você é Destruição
Não quis deixar seu mundo em tempestade
Visitei-o tantas vezes fugindo do despertar
Mas você me condenou ao inferno de não mais te ter
Já não sinto mais fome, nem sede
Sinto apenas o Desespero de te ter ao menos uma última vez
Que você me Deleite em Delirio
E por apenas mais uma vez me leve ao Sonhar
E que quando meu Destino for apenas a Morte
Eu possa contar a sua irmã sobre o dia em que você me fez renascer.


[retirado de "http://ladyselenia.blogspot.com/" - e fantástico. Hj fui eu quem se encontrou com vc... em seu texto. OBG!]

terça-feira, 22 de setembro de 2009

ESPERA - tic tac, tic tac, tic tac, tic tac, tic...

Espero porque sou paciente [ou finjo ser paciente, não importa]. Também espero porque não tenho coragem, espero porque não tenho certeza, espero porque tenho esperança e espero por mais um milhão de coisas que latejam em minha cabeça e me acalmam, e me reviram, e me transformam, e me acalmam... por isso espero.
E enquanto espero, eu perco tempo?

..tac, tic tac, tic tac, tic tac...

Não importa. Eu espero.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Por quÊ?

Porque amar sozinho é a pior coisa desse e de todos os mundos, mas eu amo. E ponto!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Amor

Porque acima de nossas cabeças há um céu bonito e azul, e sob nossos pés, abaixo do concreto ou cimento ou pixe, há terra fértil, possibilidade, alimento, vida...



E amor porque há um coração que espera, desesperadamente, pelo momento em que, em meus braços, suas dores serão lembranças de fora, longínquas; e você será eu, e vice-versa, e seremos felizes, enfim, porque o amor não é pecado.
Viver não é pecado.

Quando estiver tudo pronto, segure a minha mão.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

PARA UMA MENINA COM UMA FLOR (no lugar de Jardim)


" Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.


E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas.

E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor. "

Vinicius de Morais




[Com a licença do Mestre para cumprir aquilo que os dias tristes e enfadonhos não me permitem fazer: eis aí o texto em construção - JARDIM.]

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

aulas_de_fotografia_PÉ_COM_PÉ


aulas_de_fotografia_SIMETRIA_E_TEXTURA









aulas_de_fotografia_A_LIBELULA







[é assim se q escreve?!]

aulas_de_fotografia_A_GARRAFA





suspiro

e esses seus susurros são como um canto em meu pé de ouvido, um orgasmo ouvir dizer que me adora, que eu "isso", que eu sou "aquilo", que eu fui a "presença" do dia, blá blá blá, blá blá blá. Mas cansa. E eu estou cansado. Pensam os psicólogos, autores de auto ajuda, mutantes a afins: qual o segredo para manter o relacionamento vivo, qual a receita para blá blá blá, blá blá blá... mas o amor tem algum segredo? Se tiver, eu digo qual o segredo: não duvidar do que eu digo, não me prometer aquilo que não vai cumprir e fechar os olhos de verdade, apertando com força minha mão. Posso ser medroso mas não costumo fugir de meus compromissos. Você cumpri com que frequência os seus? Se me quer de verdade, não fuja; posso ter fugido outras vezes, mas, por favor, já não temos tempo...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A hora do fim

Num pequeno papel, colado na mesa de cabeceira.

"Talvez depois você queira falar, mas aí pode ser que eu já não esteja, porque é sempre assim: a gente só enxerga a importância quando perde".

Meus olhos cegaram.

VÃO

vão
Há um vão entre mim e tudo que quero de amar.
Suas palavras fazem o traço para o passar.
Meus medos vão e tocam o outro lado.
Terra sua.
Você é de um pedaço aqui, dentro de mim.
Sou seu deitado em ti.
Homem agora enfim em si.
Sua causa, eu vou.


[[Retirado de http://iilogicowall.blogspot.com/
Marcos Bernarde]]

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Última Ceia

Tudo ainda era muito constrangedor e tinha gostinho de mentira. Mas era só o começo e eles tinham a boa intenção de melhorar; exatamente todos queriam, agora, algo novo.
Por isso, naquela manhã de domingo, todos se paparicavam, diziam palavras doces, e ele, especialmente, cozinhou caprichosamente para sua família.
Na hora do almoço, pouco foi dito à mesa. Tirando um segundo ou outro de constrangimento, o momento era mesmo de contemplação.

Mais algumas horas e estariam, novamente, separados, por entre caminhos opostos ao caminho que pedia o coração, mas com tudo em seu lugar, tudo que era realmente importante, o resto seria mais fácil, agradável quem sabe...

Na hora da despedida, um abraço forte e a vontade de chorar, sempre ela, sempre o medo de parecer fraco, sempre a vergonha de chorar na frente do outro e novamente aquele teatro, aquelas mentirinhas de filho forte, pai austero... O coração apertado, mas deveria ser normal, porque intuição é coisa de mulher, e isso não é intuição, isso é coração apertado. Ele predia o choro e lembrava da carta que escrevera... Pedira para não sofrer mais, para cada coisa voltar a seu lugar. Lembrou também do alerta que perdiam tempo e logo poderia ser tarde. Lembrou, novamente, do coração apertado e detectou o suor frio e as mão trêmulas. Pensou em como, de fato, não se conhecera. Lembrou, também, do tempero fraco do almoço, nada de anormal e, mesmo assim, como fizera falta um momento como aquele. Lembrou dos amigos do trabalho, dos quais poucos de despediu na sexta-feira. E de Luciana, que cobrou um abraço pela manhã. Ainda está estressado? Ela perguntou. Talvez seja a gastrite, lembrou que respondeu... Pensou em como seria ruim não mais vê-los, sobretudo aquele novo amigo que tanto admirara, amava para falar a verdade, e lembrou-se de como é difícil a conjulgação do verbo amar. Lembrou dos pais, tão longe mas agora todos em paz, e, por um momento, fechou os olhos e depois amedrontou-se com a possibilidade da morte, com a qualidade daquela estrada, com a possiblidade de [ou impossibilidade de não] viver o suficiente para fazer o que sempre quis... mas será que dará tempo de fazer tudo que quero?...

Chovia.

Procurou não pensar em nada mas o ônibus ia rápido, as curvas escuras, close your eyes and dream, dizia a música... Não houve tempo. Uma carreta, o coração apertado e as benditas leis da gravidade... Abriu o olho e depois fechou. Um corte na cabeça, a dor de cabeça, e outras cabeças e ponto. Seria, assim, o fim? Lembrar de tudo horas antes de morrer e não segundo antes de morrer?