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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Domingo de tarde

Rasteiramente, ela desliza pelos primeiros cômodos da casa e observa, astuta, a movimentação de um lar em decadência: o pai que sai para trabalhar, a mãe que também sai; o rapaz que só enxerga o próprio umbigo e o outro, coitado, mentira ambulante de não sei mais o que com não sei o que lá... Ela prepara, ela se monta, ela tenta o bote.

Tenta...
E não consegue!
A reação:

...a última apunhalada que não é a derradeira, mas só mais uma entre as tantas nessas costas pobres e sofridas.

A cruz que escorrega, o suor que se mistura às lágrimas e ao chão.

Poeira e vontade fina de chorar mas pra que se é tudo tão esquisito tudo tão triste, tão difícil?

O conteúdo que não entra, a hora que não chega, o diálogo que não tem fim e as injustiças, todas, refletidas nuns com tantos e noutros com tão pouco.

E o espírito de perdedor que rodeia meu coração solitário e ferido, sempre ferido, sempre sozinho, sempre esperança e fé, e força e coragem, apesar de não se ver.

Dê a última apunhalada, oh cruel e “qualquer coisa” destino, mas dê com força, porque a esperança que sei que tenho e algo mais que agora me faltam as palavras serão o combustível para bater a poeira e seguir em frente e cair de novo. E levantar: passo mais firme, dureza em contraste com o pé macio, mas sem dor!

Meu coração e eu somos carne viva, que permanece sempre, apesar de tão difícil que possa parecer; e não é o bem que vence, se é nisso que acreditas pobre serpente sem ventre, mas o homem de verdade.

De verdade!

Um comentário:

  1. "E o espírito de perdedor que rodeia meu coração solitário e ferido, sempre ferido, sempre sozinho, sempre esperança e fé, e força e coragem, apesar de não se ver"
    Isso doi tanto...
    Parece com meu coração!
    Beijos

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